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As Novas Tecnologias no Processo Ensino / Aprendizagem da Educação Musical – Breve Reflexão

António Raimundo
Agrupamento de Escolas N.º 2 de Elvas

 “Só uma formação contínua ao nível tecnológico e musical fará com que nos apropriemos da tecnologia do século XXI para caminhar rumo a uma educação musical coerente com a criação contemporânea.”

(Vincent, Merrion;  1996 )

“O Plano Tecnológico da Educação (PTE), aprovado pela Resolução de Conselho de Ministros n.º 137/2007, de 18 de Setembro, assume como compromisso a modernização tecnológica das escolas visando a melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem e o reforço das qualificações das novas gerações de portugueses, através da concretização de um conjunto integrado de programas e projectos de modernização tecnológica das escolas”.

O PTE prevê duas vertentes de intervenção:

- Por um lado, o apetrechamento e modernização do parque informático das escolas com a finalidade de integrar estas ferramentas no processo pedagógico e didáctico;

- Por outro, na formação e certificação (inicial e contínua) de professores em novas tecnologias, de forma  a dar resposta às necessidades detectadas pelo uso inovador e pedagógico das T.I.C..

Neste contexto, em 2008,  frequentei a acção de formação “Utilização das T.I.C. nos Processos de Ensino/Aprendizagem“. Na acção, foi apresentada e explorada a aplicação Webquest - ferramenta de pesquisa orientada da Web. Concordo com o formador ao afirmar/ “opinar” que, “uma percentagem elevada de professores tem dificuldade em orientar um trabalho de pesquisa na Web em contexto de aula”; porém as minhas expectativas saíram goradas, pois era espectável que, ao nível da formação contínua de professores, um “plano” tão ambicioso desse resposta à especificidade eminentemente prática e experimental da disciplina  de  Educação Musical.

O Programa Curricular de Ed. Musical do Ensino Básico, assenta em cinco conceitos principais: Timbre, Dinâmica, Altura, Ritmo e Forma.

A sua abordagem, em contexto de sala de aula, apela à introdução de novas metodologias no Ensino da Educação Musical criadas à luz do construtivismo de Piaget e dando enfoque a quatro correntes pedagógicas  fundamentais nesta área: (Dalcroze, Orff, Kodály Wuytack). Estas correntes, embora diferentes entre si, visam aproximar a teoria da prática, no ensino da Educação Musical.

O professor de Educação Musical, em contexto de aula, deve promover experiências musicais específicas de diferentes tipos, possibilitando que os alunos assumam diversos papéis, numa variedade de ambientes musicais. Para alcançar este equilíbrio de actividades musicais, é proposto o modelo TECLA: Técnica (habilidades vocais, instrumentais e de escrita); Execução de obras musicais em público; Composição implicada numa ideia musical; Literatura musical e Apreciação através da audição de obras (Swanwick, 1979).

Recentemente, vários são os investigadores (Papert, 1986; ,Jonassen, 2007) que defendem o construcionismo - que expande o conceito de construtivismo - ou seja, a construção do conhecimento pela introdução das novas tecnologias no processo de ensino e de aprendizagem.

 Nord (2005) defende que o construtivismo e o construcionismo enfatizam a aprendizagem “situada“. No caso da música, sugerindo que os alunos são activos, pois criam música original, e são críticos e executantes da sua música e da música dos outros. A tecnologia permite aos alunos tornarem-se envolvidos no estudo da música, enquanto têm prazer de criar composições originais. Colocar os recursos tecnológicos nas mãos, leva-os à produção de música .

Para Gohn (2003), a utilização de software em Educação Musical é extremamente positiva, apresentando vantagens relacionadas com a individualização dos objectivos e processos de aprendizagem, respeitando o ritmo e estilo de estudo de cada aluno, bem como a possibilidade de integração de vários mídeas na preparação do material didáctico, permitindo o desenvolvimento da sensibilidade musical a partir do estabelecimento de relações entre sons, imagens e movimento.

Neste contexo, Miletto et al (2004), tecem algumas considerações relativas à Educação Musical auxiliada por computador, defendendo que a utilização de computadores na educação e em particular na Educação Musical deve obedecer a duas premissas importantes:

- primeiro, os programas devem ser vistos como um meio de auxiliar o professor na prática do ensino e não como substitutos do professor;

- segundo, é o professor quem decide as formas mais adequadas de utilizar esses programas para enriquecer o ambiente de aprendizagem.

Os mesmos investigadores (Miletto et al, 2004) referem que a utilização de software na Educação Musical pode observar-se a três níveis: (1) o uso de software musical em geral (editores de partituras, sequenciadores, etc.) como ferramenta educativa, embora não tenha sido criado especificamente para esse objectivo; (2) o uso de software especificamente educativo-musical (treino auditivo, tutores teórico-musicais etc.) criado especificamente para a Educação Musical; (3) a programação sónica, que permite aos músicos a criação do seu próprio software adaptado a uma estratégia de ensino particular ou para situações de ensino específicas que envolvam programação de computadores (ensino de composição electroacústica, por exemplo). Os mesmos investigadores referem ainda que, seja qual for o tipo de software criado para usar na disciplina de Educação Musical, é importante que sejam observados os pressupostos pedagógicos coerentes com os objectivos educativos do contexto e, principalmente, que os mesmos propiciem o desenvolvimento musical da forma mais abrangente possível.

 Miletto et al (2004) referem ainda seis tipos de software musical classificados de acordo com as suas funcionalidades: Software para acompanhamento; Software para edição de partituras; Software para gravação de áudio; Software para instrução musical; Software para sequenciação musical e Software para síntese sonora.

Vários são os estudos que concluem que a utilização deste tipo de software, em contexto de sala de aula, melhoram a performance dos alunos ao nível da interpretação vocal e instrumental, da audição musical e na realização de exercícios rítmicos/melódicos (Miletto et al, 2004; Cunha, 2006; Oliveira, 2008).

Atento às “reais” necessidades formativas dos professores de Ed. Musical (2º e 3º ciclos)  o Projecto “Sons da Escola“ (DREA) dinamizou  a acção ”Materiais Pedagógicos para o Ensino da Música” que se realizou  de Janeiro a Maio do ano de 2008 em três locais diferentes – Gavião, Redondo e Beja - e envolveu cerca de 60 docentes de Ed. Musical do Alentejo.

O objectivo da acção foi dotar os docentes de ferramentas na área das Novas Tecnologias aplicadas à Música, nomeadamente na produção de materiais didácticos (partituras, instrumentais e gravações áudio), para aplicação das mesmas na prática lectiva.

A modalidade adoptada foi a de Oficina de 50 horas ( 25 presenciais / 25  individuais ) .

Na acção foram abordadas e exploradas potencialidades de software de música em geral (editores de partituras, sequenciadores e editores de audio) como ferramenta educativa e sua aplicabilidade no processo de ensino e aprendizagem.

A fase inicial da acção foi marcada por uma heterogeneidade de opiniões, dos formandos presentes, relativamente às T.I.C. na produção e ensino da música, talvez motivadas por  formações iniciais muito diversificadas. Saliente-se que estas evoluíram de forma favorável durante as seis semanas de formação.

O momento mais esperado e profícuo da acção foi, sem dúvida, a apresentação dos trabalhos finais por parte de cada um dos formandos. Foi aceite o desafio do formador - de não limitar o trabalho final aos paradigmas explorados na acção, mas de os complementar com  conhecimentos adquiridos noutros contextos formativos ou de forma autodidacta.

Foi unânime que, nesta troca de saberes e experiências, todos ficámos mais ricos. Apresentaram-se propostas de actividades para leccionação de conteúdos de Ed Musical construídas a partir dos softwares abordados,  traçaram-se reflexões acerca de novas abordagens de conteúdos, sugeriram-se alterações no próprio programa, diagnosticaram-se necessidades de formação e apresentaram-se pontos de partida para futuros encontros de trabalho….

Em Janeiro de 2009, o Projecto “ Sons da Escola “ (DREA) dinamizou a acção de formação ”Materiais Pedagógicos para o Ensino da Música – II“, que se realizou em Évora (nas instalações da DREAlentejo) com um grupo de 20 formados.

Na acção, foram aprofundados conhecimentos relativamente aos sequenciadores e editores de áudio.

Foi interessante verificar que, alguns os conhecimentos adquiridos na anterior acção, já estavam a necessitar de uma actualização – em virtude do rápido desenvolvimento tecnológico ao nível da programação deste tipo de aplicações; por outro lado foi fácil verificar – principalmente ao nível de tratamento de áudio - como algumas máquinas estavam a ficar obsoletas, o que por si só demonstra que o P.T.E. para produzir os seus efeitos, deve ser célere nas suas duas vertentes (apetrechamento e modernização do parque informático e formação e certificação - inicial e contínua - de professores).

A apresentação dos trabalhos finais foi, mais uma vez, o momento mais aguardado. Foi interessante verificar a forma como a maioria dos formandos evoluíram durante estes dois anos e a forma como mudaram de opinião relativamente à utilização das novas tecnologias na produção e ensino da música.

Em 2010 o P.T.E. apresentou um modelo formativo em que se definiu como prioridade a utilização do quadro interactivo em contexto especifico de cada área curricular.

Neste contexto, frequentei a acção “Q.I.M no Ensino Aprendizagem das Artes e Expressões (Ed . Musical)”.

Na acção foi apresentado o software “ActivInspire“ e todas as suas potencialidades como recurso em contexto de sala de aula.

Relativamente à referida acção, começo por afirmar que apenas uma minoria (três dos vinte professores presentes) tem acesso ao quadro interactivo na sala de aula de Ed Musical, o que significa que a meta do PTE-2010- um quadro interactivo por cada três salas de aula está longe de ser atingida -; por outro lado a questão que se levantou entre os presentes foi a de saber para quê fazer uma acção sobre quadros interactivos, se as salas de Ed. Musical não estão apetrechadas com os mesmos…?. A resignação foi bem visível ao longo das 15 horas previstas para a acção.

Relativamente ao software abordado, cumpre-me “opinar” que se trata de um recurso com uma aplicabilidade (em termos pedagógicos) meramente expositiva (se não a fizermos interagir com outras aplicações…nas quais urge oferecer formação) e que na opinião dos presentes, por si só, é incapaz de aumentar a competência interpretativa (ao nível da execução / composição)  e literacia musical dos alunos (objectivo principal da disciplina de Ed Musical ).

Estudos provam que “a taxa de retenção de conhecimentos é muito superior com o recurso aos  o Q. I. M.“ ( Tate, 2002);  mas estudos que provem que este recurso melhora a produção e literacia musical dos alunos estão por realizar.

O ano de 2010 foi marcado pela afirmação definitiva das novas tecnologias na produção musical .

James Horner, compositor responsável pela banda sonora de Avatar, dispensou toda a orquestra e substituiu-a literalmente por instrumentos virtuais onde, segundo palavras do próprio, "a flexibilidade dos instrumentos virtuais desempenharam um papel importante no processo criativo e escultural da música, permitindo texturas sonoras nunca conseguidas e associadas a mundos distantes"

A melhor produção no Jazz do ano “Pat_Metheny-Orchestrion“ é apresentada com um trabalho solitário e inovador. O instrumento do compositor / músico Ibanez  funciona como um periférico de um Apple PowerBook 12. Metheny executa, domina, controla a sua “Orchestrion”, recorrendo ao que de mais avançado existe em tecnologia de Midi, samples, síntese sonora e manipulação de áudio. (ver foto 1)

“Estes dispositivos permitem que compositores tenham um maior controlo sobre a interpretação, garantido, assim, uma maior fidelidade ao seu pensamento musical.” (Metheny,2010). E, por outro lado, o emergir e afirmação de correntes e movimentos artísticos e musicais que privilegiam as texturas sonoras e timbre na produção  artística.

(Rachmiel, 2010) musicólogo, compositor e físico, defende, na revista da especialidade Computer Music - artigo “O Quinto Elemento”, que “a música com Bach evidenciou-se pela harmonia, com Bethoveen evidenciou-se pela melodia, mas a música do futuro será, sem dúvida, marcada pela primazia do timbre e suas infinitas combinações / manipulações físicas (reais e virtuais)” .

Neste mesmo artigo, Rachmeil defende que o compositor / músico  deve acrescentar novos conceitos  aos parâmetros clássicos nas suas composições e destaca: ao nível do timbre – noções de patch, transitórios, filtros, distorção; ao nível da altura - envolvente e compressão e introduz um quinto conceito na composição musical “o espaço” – com noções de panorâmica, campo stereo e surround, reverbação e ressonância.

As minhas inquietudes e de alguns dos presentes nas acções acima referidas (razão pela qual teço esta  modesta reflexão) são corroboradas pelos principais investigadores na área da pedagogia musical.

“O desenvolvimento tecnológico obriga a redefinir o significado da musicalidade, competência interpretativa e literacia musical; é, assim, importante  compreender a linguagem dos computadores, engenharia e produção de som, técnicas de martking e de promoção de modo  a “ser-se considerado globalmente no mundo moderno“ (Hargreaves,  1999) .

“A educação musical tem sido desafiada a passar por uma série de transformações. As T.I.C. desafiam-nos a transformar os nossos conceitos educacionais, nossas perspectivas didácticas que nos constrangem a rever e complementar a nossa formação, nos levam a reflectir sobre as novas possibilidades e exigências relativamente às interacções com nossos alunos e colegas. “(Kruger, 2006)

“É preciso lembrar que para o professor estar afinado com o seu tempo, ele deve ser preparado para exercer esta temporalidade. Vencer o medo da incompetência, frente aos desafios tecnológicos e frente aos jovens “tecnolófilos”. Esta não pode ser uma tarefa solitária. Para isto não bastam apenas planos de formação esporádicos, por vezes pouco estruturados e sem fio condutor. É preciso apostar e investir mais neste profissional que tem como difícil tarefa educar uma geração digital.“ (  Vincent, M.,1996).

Fig 1- Apresentação de Orchestrion ao vivo em New Jersey.

Legislação / Bibliografia:

Resolução do Conselho de Ministros n.º 137/2007, de 18 de Setembro.

Despacho n.º 143/2008, de 3 de Janeiro com as alterações introduzidas pelo Despacho n.º 700/2009, de 9 de Janeiro, Modelo Orgânico e Operacional do Plano Tecnológico da Educação.

 CUNHA, P.F.; (2006) – Tecnologias da Música em Expressão e Educação Musical no 1º ciclo (dissertação de Mestrado ). Braga: Universidade do Minho.

 GOHN M.; (2003) - Auto-Aprendizagem Musical: Alternativas Tecnológicas. São Paulo: Annablume,

 HARGREAVES, D.,(1999). – Desenvolvimento Musical e Educação no Mundo Social. Música, Psicologia e Educação. Revista da ABEM, Porto Alegre. 

JONASSEN, D. H.; (2007) - Computadores Ferramentas Cognitivas – Desenvolver o Pensamento Critico nas Escolas. Porto Editora.

KRÜGER, S. ; (2006). Educação Musical apoiada pelas Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): pesquisas, práticas e formação de docentes. Revista da ABEM, Porto Alegre.

METHENY, P. (2010)- Orchestrion – Sound Press. California.

MILETTO, E. M.; FRITSCH, E. F.; FLORES, L. V.;LOPES,N.;COSTALONGA, L. L.; PIMENTA, M.; (2004) - Educação Musical Auxiliada por Computador: Algumas Considerações e Experiências. Revista da ABEM, Porto Alegre.

NORD, M. (2005). The Other Conversation: Teaching and Practice and Music Technology. Revista da ABEM, Porto Alegre.

OLIVEIRA,J.; (2004). Educação musical e diversidade: pontes de articulação. Revista da ABEM, Porto Alegre.

PAPERT, S. (1991).  Constructionism: A new opportunity of  Elementary Science Education; Massachustts Institute of Techonology , Media Laboratory, Epistemology and Learning Group.

TATE, L. (2000), Using the Interactive Whiteboard to Increase Student Retention  - Shepher College.

RACHMIEL (2010). “El Quinto Element”. Revista Computer Music. Barcelona.

SWANWICK, K.; (1979). A Basis for Music Education. Berkshire: NFER.

VINCENT, C.; MERRION, M. ; (1996). Teaching Music in the Year 2050. Music Educators Journal. Revista da ABEM, Porto Alegre.