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Sociedade, escola, valores…
Rui Cuco e
Horácio Ramos A atual crise económica à escala global veio agudizar uma crise de valores que se tem vindo a registar na nossa sociedade nos últimos anos. A escola espelha o que se passa na sociedade, o que tem levado ao desespero grande parte dos educadores, professores, pais e encarregados de educação. A evolução da relação entre família, sociedade e escola é marcada pela inquietude que afeta as diversas instituições. Os valores da primeira vacilam quando não têm a estabilidade desejada e projetam-se na relação dos indivíduos com as segundas. O facto de os valores estarem em crise prende-se com a incapacidade de enfrentar o problema, o que leva ao abandono dos valores tradicionais e à procura do individualismo em detrimento de uma abordagem integrada deste flagelo social. A simbiose perfeita é utópica, mas a procura (tem que ser!) incessante. Sem a pretensão de ser um paradigma na educação das nossas crianças, nem de elencar o que cada parte deve ou não fazer, é nossa intenção apenas dar um pequeno contributo para o bem comum. Quanto aos pais, é desejável que acompanhem diariamente a vida escolar dos seus educandos, nem que seja apenas para perguntar se o dia correu bem, ou se aprenderam algo de novo, sem, no entanto, sufocar com uma exigência para além do razoável; implementar regras e obrigações periódicas ou espontâneas, que carecem de verificação; utilizar o “Não!” de forma pedagógica e não sistemática e infundada… Não menos importante do que isto, devem procurar ver na escola, em todos os seus atores, aliados para o sucesso educativo dos seus educandos, não obstáculos que devem ultrapassar. Com todas as insatisfações, os professores, que não dispõem de equipamentos e de alunos devidamente socializados e motivados, numa época em que a austeridade impera, terão algo a fazer? Certamente que sim… e muito. Muitas vezes, ouve-se nas salas de professores: – “Muito bons são eles, com o que têm lá em casa!”. Mas não o são, efetivamente. Todos os dias chegam à escola histórias mirabolantes de famílias completamente disfuncionais (e desestruturadas), mas frequentemente ignoradas, às quais se aplica o princípio da igualdade. Não raras vezes, alimentam-se maus comportamentos discriminando-se quem muitas vezes já o é, quer pelos seus, quer pelos que os rodeiam. A escola consegue, assim, ser mais um fator de desestabilização, e não o contrário, como seria ideal. O Estado segue amiúde a via fácil e atende apenas às consequências, sem se interessar pelas causas. Culpabiliza a escola, os professores e o ensino, descurando as disfunções das famílias e os problemas que enfrentam. Reformula, reforma, renova, reaprecia, reavalia… (formula, forma, inova, aprecia, avalia…) a cada executivo que passa, tendo em consideração números e não pessoas, rotulando e mecanizando o sistema, desumanizando-o e despersonalizando-o.
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