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Os segredos da leitura e os segredos da Biblioteca Escolar
Elisabete Fiel Dedico este artigo à professora e amiga Maria da Luz Sousa com que falei muitas vezes sobre livros, leitura. Obrigado por tudo o que tive oportunidade de aprender contigo. Resumo: Os segredos do sucesso das actividades da biblioteca da Escola Secundária de Campo Maior são desvendados e recordados. O périplo pelas actividades realizadas no âmbito do livro, da leitura e da escrita. Palavras-chave: livros, leituras, promoção da leitura, leituras digitais. A leitura é tratada de forma enigmática. Tal como afirma o meu amigo, professor bibliotecário Artur Dagge “ ler é perigoso” e pode tornar-se quase um ritual obscurantista. A forma com se lê e coloca “o bicho” da leitura noutros é o propósito deste artigo.
A biblioteca da Escola Secundária de Campo Maior constitui-se o centro nevrálgico da escola, desenvolveu-se assim desde 2004. Já teve muitas oportunidades de divulgar as actividades, os casos de sucesso quer em território nacional (em várias conferências) quer além fronteiras: etwinning (www.etwinning.net), Grupo das Bibliotecas Escolares e Bibliotecas Sem Fronteiras (Comenius Regio) http://biblioregiosf.educarex.es/. Quando se apresenta o projecto e o trabalho realizado surgem sempre vozes: “tens uma equipa ministerial” “tens, “tens” e “eu não tenho.” Em parte todos estes comentários são verdadeiros, pois contamos com: apoio da direcção (anterior na pessoa da Ana Maria Videira e actual José Emílio Pernas), reconhecimento por parte de professores, alunos e restante comunidade e com uma equipa (Luís Santa, Helena Saldanha, Carla Correia) com tempos muito curtos mas indiscutivelmente excelente. Todos os departamentos contaram sempre com o apoio da Biblioteca Escolar, mas a Biblioteca Escolar também conta com os docentes da escola. O primeiro segredo do sucesso: cultivar excelentes relações interpessoais. À primeira vista parece uma verdade do senhor “la Palice”, no entanto a relação interpessoal que se estabelece com os colegas é a primeira âncora do trabalho em equipa. O segundo segredo do sucesso é “acreditar” que os projectos resultam, a montante com um estudo teórico a jusante com a vontade de “fazer acontecer”. Neste trabalho deixamos de lado os segredos das nossas leituras, apesar de podermos dizer uma listagem de autores que recorrentemente são lidos e sítios da WEB comentados. Os segredos da implementação: como se divulga um livro? Anunciando que existe na biblioteca, como começamos com o Astérix. Toda a escola foi inundada de Astérix e Obélix e os leitores aparecem a correr. No segundo livro, mais recente refinámos a divulgação: dois alunos encarnaram as personagens e anunciaram em todas as salas que o livro estava disponível. Tivemos lista de espera.
Em prol da leitura e de tornar os alunos “aditos”, como refere Fernando Savater, à leitura e aos livros fizemos várias experiências que relato e explico com se fizeram, os segredos dos “nossos sucessos”. As nossas semanas da leitura antes de haver temas definidos pelo Plano Nacional de Leitura, sempre foram temáticas. Os temas eram discutidos e os livros servidos em menus: Livros do dia. Em conjunto com a docente Carla Correia, há vários anos que na semana da leitura, lemos em voz alta para os alunos. Com se faz? Elaboramos um menu com livros, exemplo: “leituras elegantes” e aqui cabem clássicos como Eça de Queiroz ou outros espelhem a elegância; “leituras orientais”-Murakami entre outros. Entramos na sala com a carta de leituras dos livros, referimos a leitura do dia e perguntamos aos alunos o que querem ouvir ler. Normalmente, lemos mais que uma passagem a pedido e normalmente os livros são imediatamente requisitados. No ano passado, juntamos a leitura nos iPAD e continuou a ser um sucesso.
Outras semanas dedicadas ao fantástico, às mulheres, estão disponíveis na secção eventos no sítio: www.minerva.uevora.pt/bib-es-campo-maior/ A “Partilha de Leituras” é uma espécie “clube” orientada pela docente Helena Saldanha. Tem adictos há vários anos e desde que os alunos pertencem a esta “elite” que discutem leituras e livros, a fidelização está garantida. Ficam entre o 7º e o 12º ano e adoram partilhar. A Helena prepara a “partilha” com base num tema, faz pesquisa, prepara materiais, e um passaporte carimbado e assinado. O passaporte de alguns membros acusa o desgaste das participações no clube de leitura. Cada aluno e professor “partilha” generosamente a sua leitura, seleccionando um excerto que gostava de ler aos companheiros. Recordo a partilha “Crepuscular” à luz das velas numa sala escura, a beber groselha. Os livros de Stefany Mayer foram lidos, discutidos e recordados. O segredo do sucesso da leitura está em todos os públicos.
Quando pensamos em leitura, a nossa mente é invadida de nomes sonantes de livros e escritores pelos quais temos o maior carinho. O amor aos livros é tudo e por isso muitas vezes ficamos “cegos” na nossa realidade. É preciso pensar em outras formas de ler e sobretudo em todos os públicos. O desporto reúne uma série de adeptos, na televisão, mas também nos jornais. Assim, jornalistas, escritores e desportistas despertam interesse nos alunos e o sucesso é garantido. A primeira actividade realizada foi com um livro de histórias de “Futebol” do jornalista e dirigente desportivo “Paulo Canhão”, seguiu-se o jornalista: Alexandre Afonso e no ano passado o escritor e director do jornal “A Bola” Vítor Serpa. Em todos estes encontros o grupo de desporto participou activamente, nomeadamente o colega Manuel Toscano, na organização dos eventos. Como se prepara um evento desta natureza? Apelando à leitura de jornais, preparando questões sobre os temas.
A visita de Vítor Serpa contou com o público habitual do jornal “A Bola” e com os alunos de humanidades que exploravam os livros e dramatizaram um dos contos. A docente Alexandra Lopes preparou a dramatização e as questões relacionadas com os livros.
Há alguns anos, esteve na nossa escola, a docente Lurdes Cunha. A sua generosidade levou-a a partilhar os amigos nomeadamente o escritor: Luandino Vieira. A obra é densa e com uma linguagem às vezes difícil, mas o autor trouxe também lendas africanas. Foram brilhantemente dramatizadas pela docente Carla Correia e os eus alunos. Numa linguagem diferente as docentes Cidália Loureta e Helena Saldanha seleccionaram o conto “ Bebiana” que os alunos leram, discutiram e propuseram um final diferente. Concluímos que a leitura pode estar ao alcance de todos, mesmo quando a linguagem é mais inacessível ou aparentemente difícil.
As sessões de leitura temática também já aconteceram: há alguns anos intitulámos uma noite na biblioteca com o slogan: “ Vem borrar-te de medo”. À primeira vista o vernáculo da língua é apelativo, pela ideia estapafúrdia, mas ao som dos Young Goods, foram realizadas experiências químicas, pela Cecília de Físico-Química enquanto as docentes Carla Correia e Luísa Fernandes ensaiava-as leitura à luz de velas, num ambiente de verdadeiro terror. Resultado, imensa gente a ler Edgar Allan Poe. Os contratos de leitura, aparentemente desinteressantes, foram durante alguns anos divulgados como sugestões de leitura numa rubrica: “ Leitura a Metro” .Durante meia hora, a professora bibliotecária e o docente Paulo Costa e os alunos sobre livros numa linguagem acessível, própria de quem quer que outros leiam o “maravilhoso” livro que acabámos de ler. A meio mudamos de equipa, mas a rubrica sobreviveu até ao ano lectivo anterior (altura em que a rádio encerrou portas).
A poesia tem muito de intimista mas a sua relação com outras artes é sublime. Conheci o Paulo Condessa e as suas obras, adorei os poemas e os alunos também. A preparação da sessão envolveu os livros e ilustrações com um curso tipo 3, pouco habituado à poesia, mas que gostou daqueles poemas.
A leitura muitas vezes acontece em espaço não é convencional, sair com os alunos e ler em praças, em lares ou no cabeleireiro pode ser uma experiência única. A leitura também é generosidade, recordo o trabalho desenvolvido com o livro de Beatriz Osés no dia da Poesia e o 9º A. A leitura é uma batalha, mas a produção escrita talvez uma guerra ainda maior. Colocar os alunos a escrever não é uma tarefa fácil, no entanto tudo pode ser feito com alguma imaginação. Um dia, a docente Luz de Sousa mostrou-me umas histórias geniais escritas pelos alunos, Histórias em 15 palavras. A ideia recuperada a partir de Hemingway pareceu-me interessante. E a ideia foi explicada pela docente da seguinte maneira: «Um dia o escritor norte-americano Ernest Hemingway declarou que a melhor história que alguma vez se escrevera tinha seis palavras: «For sales: baby shoes, as new» Traduzida para português a narrativa passa a contar com mais uma palavra: «À venda: sapatos de bebé, como novos». A partir desta frase de Hemingway, o jornal britânico The Guardian fez um desafio a 35 escritores de língua inglesa para que escrevessem uma história com o máximo de seis palavras. Responderam nomes tão importantes como: John Barville, Ali Smith, David Lodge, DBC Pierre, Yan Martel (todos os vencedores do Booker Price) entre outros. » A professora Maria da Luz com as adaptações inerentes lançou o desafio no âmbito da disciplina Lerescrever: «As mais pequenas histórias dos mundo» – à maneira de Hemingway e de outros autores famosos: escrever uma história original com o máximo de quinze palavras. As professoras Teresa Castro e Cristina Couceiro também colocaram em prática a ideia: um catálogo de uma exposição da ilustradora e artista plástico Evelina Oliveira deu o mote à criação histórias curtas de 15 palavras. Produzimos um livro com cerca de 150 histórias diferentes. Evelina Oliveira esteve em Campo Maior a nosso convite. Autora de muitas ilustrações, lemos os livros e explorámos as ilustrações. A ilustradora gostou imenso da ideia e quando conversou com os alunos reconheceu a forma original como foi recebida: um conjunto de bonecas dançava num ambiente de tintas, uma coreografia ensaiada pela professora Marta Monteiro. Houve uma exposição de obras da autora e uma visita guiada em conversa com a artista plástica.
O docente Paulo Costa propôs «contos de 1 minuto» e foram ilustrados, surgiram contos muito bons a serem divulgados na semana da leitura: As tradições também não ficaram de fora, lendas recolhidas pela docente Manuela Tomé com a turma do 9º ano, deram lugar a uma publicação. Aulas onde experimentamos aguarelas e uma noite de poemas e tradições.
As maratonas de leitura são actividades recorrentes. Como se preparam? Um conjunto de textos ou poemas interessantes a serem lidos durante 2h52 minutos sem parar. Os alunos e professores inscrevem-se e lêem durante o tempo estipulado. A maratona de Poesia teve como mote: todas as línguas e foram escolhidos poemas de vários autores. Repetimos a experiência várias vezes, a última durou cerca de três horas.
As leituras luminosas (em destaque no número da revista anterior) foram explicados na sua forma de implementação;
Sempre adorei artes plásticas e partilhar essa paixão é sempre um momento único. Assim poemas e contos são ilustrados de forma quase experimental com alunos. Os últimos, no âmbito do projecto bibliotecas sem fronteiras. Contos escolhidos: «Arroz do Céu», «Sei um Ninho» nas aulas de português e os contos de Beatriz Osés.
No âmbito dos projectos europeus, nomeadamente do projeto: Bibliotecas Sem Fronteiras, deixamos o link com tudo o que já se realizou: Não estamos convencidos que já fizemos tudo pela leitura e pela escrita, muito há para fazer neste domínio. Trata-se apenas de uma forma de desvendar segredos que muitas vezes permanecem guardados e que devem e podem ser partilhados com quem pretenda entender a ideia e reinventar novas formas de “fazer acontecer”. Sabemos que também se pode “morrer de sucesso” utilizando as palavras de Javier Valverde, e não o queremos fazer, mas estamos empenhados em trilhar novos caminhos, sempre com um propósito: cultivar o gosto pela cultura.
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