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Contributos para a divulgação do espólio museológico da Escola Secundária Mouzinho da Silveira

António Traguil
Agrupamento de Escolas do Bonfim

A Escola Secundária Mouzinho da Silveira (E.S.M.S.), em Portalegre, representa na actualidade a instituição em funcionamento ininterrupto mais antiga da cidade. No seu percurso de 160 anos  tem contribuído para a formação de centenas de indivíduos sendo referência no panorama educativo e cultural da cidade.

Ao longo da sua existência muitos dos seus docentes e alunos transcenderam o espaço escolar  intervindo activamente na cidade nos domínios social e cultural. Nomes como Galiano Tavares, Reis Pereira ou João Tavares  atestam-no pelas suas acções nos campos da politica, literatura, coleccionismo e artes.

Designado inicialmente Liceu de Portalegre, adquiriu por imperativo dos tempos e transformações sociais as designações de Liceu Mouzinho da Silveira, Liceu Nacional  de Portalegre e Escola Secundária Mouzinho da Silveira, sendo esta última a que mantém desde 1976, ano em que também passou a ocupar um novo edifício, construído especificamente para o efeito e que na presente data foi alvo de uma profunda reestruturação e modernização.

A Escola ou Liceu (designação ainda hoje utilizada, tal o seu enraizamento na memória colectiva) ocupou outros edifícios, tendo-se fixado durante um maior período, cerca de cem anos, no antigo solar da família Acciaioli, na Praça da Republica, local onde hoje funciona a Escola Superior de Educação.

Registos fotográficos existentes nos arquivos da escola, datados dos anos vinte e trinta do século XX, permitem-nos percepcionar esses espaços bem como a diversidade de equipamentos didácticos que os mesmos continham. Os laboratórios de Física, Química, Ciências Naturais e Geografia, as salas de Desenho e Música e a Biblioteca apresentam-se  como locais vocacionados à aprendizagem, à observação e à experimentação. Instrumentos e artefactos devidamente arrumados em vitrinas ou sobre bancadas, animais taxidérmicos, mapas e quadros parietais estão registados, sendo possível identificar muitos deles no espólio actual da escola.

Com a transferência de instalações em 1976, devido à instabilidade social que então se vivia, ou mesmo por os considerar obsoletos face aos novos materiais adquiridos, parte do espólio foi desprezado e abandonado. Graças aos funcionários e professores responsáveis pelos laboratórios, a maior parte, e talvez a de melhor qualidade, foi preservada e transportada adequadamente.

Muitos destes objectos perderam há muito a sua utilidade, pela substituição por outros mais actuais; no entanto têm permanecido satisfatoriamente acondicionados e muitos estão devidamente inventariados devido ao empenho de alguns professores e funcionários.  Nos últimos anos, com o contributo do Ministério de Educação, tem-se procedido ao levantamento, estudo, inventariação, registo digital e fotográfico destes objectos. É possível neste momento aceder a 280 entradas, correspondentes ao mesmo número de objectos colocados no site  do Património Museológico da Educação.

Se falarmos em inventariação, ou mesmo preservação, podemos dizer que têm sido criadas condições e mesmo medidas para que tal aconteça. As peças estão guardadas em vitrinas e armários, de forma a preservar a sua integridade, mas carecendo no entanto de um programa que vise a sua conservação, restauro e exibição. 

Atendendo ainda à forma como os objectos estão dispostos, os mesmos não obedecem a critérios expositivos, tanto pela forma como estão agrupados como pela carência de identificação e informação. São objectos que atestam uma memória, por vezes imprecisa e difusa, para quem, muitas vezes indiferentemente, com eles convive todos os dias.

A necessidade de valorizar a colecção passará pela conversão destes objectos em documentos. Queremos com isto dizer, organizar a colecção de modo a potenciar lógicas de discurso histórico e científico e assim fazer emergir as suas potencialidades pedagógicas. O tornar público não se confinará ao espaço escolar mas também a toda a comunidade.

A criação de um museu torna-se imperativa, não para a salvaguarda da colecção, uma vez que esta se encontra minimamente assegurada, mas, e como já se referiu anteriormente, como forma de vincar a identidade da instituição e funcionar como elemento agregador da mesma. A colecção deveria ainda contemplar novas incorporações, como por exemplo os equipamentos caídos em desuso, de modo a facultar no futuro a memoria do tempo presente.

Quando se fala em museu, não nos referimos a uma exposição de carácter estático confinada a um espaço e com um discurso fechado sobre si mesmo. Consideramos antes a criação de um espaço de reserva onde os objectos, devidamente acondicionados, mas visíveis, obedecendo a critérios de classificação e ordenação decorrente da especificidade, proveniência, tipologia, funcionalidade e época, pudessem  ser vistos e facultados a toda a comunidade.

Através dessa sistematização poder-se-ia proceder à organização de exposições temporárias, estabelecendo relações entre grupos mais restritos de objectos, criando assim diferentes conceitos, explorando de forma dinâmica as potencialidades que os mesmos oferecem. Como em qualquer exposição, o carácter pedagógico deverá estar sempre presente, o conceito a explorar terá a capacidade de transportar os objectos para as necessidades do momento, oferecendo discursos que estimulem os públicos nesse diálogo entre passado e a actualidade.

O dotar a escola de um espaço propício à realização de exposições foi um obstáculo que neste momento está ultrapassado. As obras de reestruturação da escola permitiram a obtenção desse mesmo espaço numa sala contigua à biblioteca. Ainda que programaticamente tenha sido definido como uma sala de apoio às actividades da biblioteca, o mesmo oferece, pela sua  dimensão, configuração e localização, as condições ideais à realização dos referidos eventos. A possibilidade de estas exposições  transcenderem o espaço da escola deverá também ser tida em conta. As potencialidades que o espólio oferece, pela sua qualidade e diversidade, suscitarão seguramente o interesse de um público mais vasto. Transpor as exposições para espaços exteriores não só favorecerá o enriquecimento do público como oferecerá a possibilidade de um melhor relacionamento nas relações da escola com a comunidade.

 Nos últimos três anos foram realizadas três exposições. A primeira,  evocativa  da memória de um antigo docente, na celebração do centésimo aniversário do seu nascimento, o que possibilitou dar visibilidade ao património material e imaterial. As duas seguintes, centradas em objectos do espólio da escola e sujeitas a conceitos que neste texto passaremos a descrever mais detalhadamente.

Factores tidos em consideração para a concepção e montagem das exposições

Conceito: aspecto primordial, que permite definir mensagens e ideias. Os objectos passam a ser contextualizados não por si mas pelo conjunto seleccionado, as relações que  estabelecem entre si farão com que contem uma história, com que estabeleçam uma mensagem. O conceito surge da necessidade de transmitir uma ideia ou ilustrar um acontecimento (como no caso da primeira exposição), como forma de criação de um fio condutor entre objectos de função similar (segunda exposição), ou como necessidade de comprovar uma ideia centrada num objecto que dialoga com todos os restantes (terceira exposição). A selecção das peças terá em conta os valores funcionais e estéticos dos objectos, o que será fundamental; uma exposição é um acto de comunicação visual, mas a grande preocupação deverá estar centrada na perfeita articulação que constituirá o todo.

Investigação: complementa  o aspecto anterior e está na sua origem. O conhecimento detalhado dos objectos irá permitir a sua correcta identificação e inserção no discurso expositivo. Nas iniciativas realizadas foram utilizadas fontes diversas como os registos de inventário, livros, catálogos, manuais, internet, documentos existentes no arquivo documental da escola, complementadas com o parecer científico e testemunho de profissionais dentro das áreas a que reportavam os objectos. A informação constante no inventário digital do site do Património Museológico da Educação  também se revelou de grande importância na pesquisa efectuada.

Informação: Com os dados recolhidos poder-se-á conceber informação complementar que ajudará na melhor compreensão dos objectos de forma individual e no seu conjunto. A atribuição de um nome à exposição que consiga traduzir o conceito idealizado será fundamental enquanto elemento catalisador da atenção do público  e revelador do objectivo da exposição. Textos escritos em painéis de grande formato e que sintetizem a ideia global ou conceito, são fundamentais para uma boa compreensão e contextualização. Nas exposições realizadas foi utilizada informação que permitia, através de textos, imagens e esquemas, complementar a informação sobre os objectos. Por fim, a identificação de cada peça foi feita através de legendas individuais onde constavam: designação, proveniência, incorporação, medidas, materiais e descrição da tipologia e funcionamento.

Podemos pois, definir a informação em três níveis que poderão permitir abordagens e leituras diferenciadas, em função do grau de interesse ou faixa etária do público: de carácter geral e caracterizadora da exposição no seu todo; secundária, que complementa cada grupo ou tipologia de objectos;  individual, que identifica cada um dos objectos.

Museografia: Um espaço expositivo é um espaço cénico. A distribuição dos objecto num dado espaço deverá ter isso em conta. O espaço de uma exposição deverá propiciar ao visitante uma experiência agradável. A criação de percursos deverá induzir à descoberta, sem no entanto ser impositiva. Nas exposições organizadas contou-se com o empréstimo de vitrinas do Museu Municipal, o que muito valorizou  os objectos expostos, tanto pela sua forma como pelo facto de serem iluminadas. A luz, ainda que problemática do ponto de vista da conservação de alguns objectos (papel, tecido) revela-se indispensável na focalização e definição de um ambiente. O número de objectos a incluir numa vitrina e no todo da exposição também deverá ser tido em consideração. Os objectos deverão “respirar” , para poderem ser observados na sua globalidade, sem interferir uns nos outros, ainda que o objectivo seja relacioná-los. Os objectos deverão ser apresentados de forma clara e simples, atendendo a que os mesmos são a base da exposição. A utilização de critérios de composição e distribuição deverá obedecer a factores estéticos mas nunca descurando a boa leitura, legibilidade e objectividade.

Grafismo: a edição de textos, esquemas e imagens deverá privilegiar os aspectos funcionais aos estéticos. Um grafismo coerente com o conceito definido será importante, mas a boa legibilidade é indispensável para a eficiência dos materiais editados. Propiciar um bom entendimento, de forma quase imediata, não ser exaustivo na extensão dos textos, sempre que possível utilizar imagens ou esquemas, são princípios a ter em conta e que contribuem para o sucesso da exibição. Uma exposição é uma iniciativa direccionada aos sentidos com especial relevância na visão. Sempre que se utiliza texto, dever-se-á ter em conta a escolha da fonte tipográfica, a dimensão dos caracteres, o entrelinhamento e a relação da forma-fundo, de modo a permitir uma boa leitura, não entediando o observador nem retirando protagonismo aos objectos. A informação apresentada deverá esclarecer mas também suscitar a curiosidade. A edição de um catálogo (sempre que possível) poderá ser uma forma de complementar essa informação.

Divulgação: uma exposição é feita para ser vista e necessita de público para se cumprir a sua função. As iniciativas associadas à sua divulgação são portanto indispensáveis. Cativar o público através de materiais gráficos: cartazes, panfletos é uma forma comummente utilizada. A publicação de anúncios em jornais e revistas, ou até de uma reportagem, poderá ser vantajosa como forma de aproximação ao público. O envio de um press release à comunicação social, nas semanas que antecedem a abertura do evento  será de grande utilidade. A utilização de meios digitais: um site ou através de e-mail são formatos que se revelam de grande eficiência, dada a sua difusão e rapidez. O envio de convites para a sessão de inauguração será outro procedimento a contemplar e que favorecerá o sucesso da exposição.

Três iniciativas para a divulgação do espólio museográfico de E.S.M.S.

Passaremos de seguida a descrever as iniciativas que foram realizadas, às quais já fizemos referência, e que se configuram como as primeiras tentativas, de forma sistematizada, da divulgação e estudo de alguns dos objectos pertencentes ao acervo da E.S.M.S.    

1. Exposição evocativa do centenário do nascimento do Professor e Pintor João Tavares.

Esta exposição, promovida pela E.S.M.S, teve como objectivo integrar uma homenagem pública que se realizou no dia 18 de Dezembro de 2008, e que teve lugar no CAEP – Centro das Artes do Espectáculo de Portalegre. A exposição, montada no átrio, permaneceu aberta ao público durante oito dias.

O Professor João Tavares exerceu a sua actividade no então Liceu, entre os anos 30 e 70 do século XX. Professor de Geografia e Desenho, ocupou vários cargos entre os quais o de Vice-Reitor. Dinamizador da vida estudantil, foi uma referência para todos os que tiveram o privilégio de o ter como professor e colega. É dele a concepção do símbolo do Liceu Nacional de Portalegre e que hoje ainda constituí a imagem gráfica da Escola. Como pintor, aguarelista e colaborador na execução de cartões para a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre é uma referência a nível nacional. O seu nome está igualmente associado à organização de eventos de cariz cultural realizados na cidade de Portalegre especialmente na concepção e organização de espaços, na concepção gráfica de cartazes e no campo da ilustração editorial.

A exposição pretendeu ilustrar as múltiplas facetas do homenageado tanto através de objectos pertencentes ao espólio da escola, com especial incidência em documentos que atestam o seu percurso como docente: registos biográficos, testes de exame,  manuais, como através de objectos cedidos por empréstimo, como foi o caso de uma tapeçaria cujo cartão é da sua autoria e várias aguarelas existentes na Casa Museu José Régio.

Dos objectos pertencentes à escola, para além dos documentos já referidos destacamos alguns instrumentos didácticos usados pelo professor: globos (referência ao seu desempenho como professor de Geografia), um modelo em gesso (reprodução de uma obra clássica), e instrumentos de desenho para quadro (referência ao seu desempenho como professor de Desenho e Geometria Descritiva).

A reprodução em grande formato de registos fotográficos antigos, representativos dos espaços onde o então professor leccionou, procurava contextualizar a origem dos objectos expostos.

A reprodução ampliada de páginas de jornais atestava, através de testemunhos da época, a relevância de João Tavares na cidade de Portalegre enquanto pintor e agente cultural.

Como complemento à exposição, foi exibida uma apresentação multimédia onde foram apresentados aspectos biográficos e imagens do Professor, de modo a permitir um melhor entendimento  dos objectos expostos.

Pela conjugação e organização dos diversos elementos seleccionados, pela construção de um discurso suportado em vestígios materiais, foi possível relembrar ou dar a conhecer um património da Escola e da Cidade, que podemos considerar como património imaterial, que permanece na memória, que os objectos têm o poder de materializar e preservar.

2. Caixas de Luz – Património, Memória e Identidade

Com o motivo da inauguração das instalações modernizadas, foi solicitado pela Directora da Escola a organização de uma exposição que assinalasse a ocasião e demonstrasse a componente histórica da instituição. A mesma deveria ocorrer no novo espaço, junto à biblioteca e que oferecia as condições até aí inexistentes para a realização deste tipo de iniciativa.

Pela visita à referida sala constatámos a presença de um elemento arquitectónico (que se repete na Biblioteca e Sala de Professores) e que poderemos definir como a marca da nova identidade do edifício. Trata-se de uma clarabóia em forma de cubo com uma das faces em vidro, que permite uma iluminação zenital de forma difusa – uma caixa de luz.

Tal observação foi o motor para o conceito que posteriormente se veio a desenvolver: luz no sentido de iluminação e também no sentido de conhecimento. Entre os objectos mais marcantes e antigos do espólio figuram duas Lanternas Mágicas, objectos incorporados na escola no final do século XIX e cujas finalidades seriam o estudo da luz enquanto fenómeno físico e como meio de projecção de imagens (existem igualmente conjuntos de dispositivos para o efeito).

Tais instrumentos suscitaram a ideia de verificar a existência de outros de finalidade idêntica: meios “audiovisuais”  que servissem de apoio a actividade docente. Meios que nos dias de hoje designamos de multimédia e que normalmente associamos à nossa contemporaneidade. Pela pesquisa efectuada em armários e arrecadações onde se guardam materiais que estão em desuso tivemos a agradável surpresa, pela quantidade, qualidade, antiguidade e estado de conservação, de encontrar uma diversidade de objectos que serviam os nossos propósitos.

A descoberta permitiu-nos comprovar e demonstrar o ponto de partida inicial: o Liceu de Portalegre, mais tarde E.S.M.S., procurou desde o seu início e ao longo da sua existência efectuar um ensino de vanguarda e utilizar nos seus métodos instrumentos e abordagens pedagógicas que associamos aos tempos actuais.

O discurso expositivo foi organizado de forma cronológica, mostrando objectos utilizados no ensino de várias disciplinas no período compreendido entre o final do século XIX e os anos 60 do século XX. Entre os objectos seleccionados observavam-se as lanternas  mágicas, uma grafonola, uma máquina de projectar de 16mm, um micro projector, um episcópio, dois diascópios, um triscópio, um magnetofone e um estereoscópio.

Para além das legendas identificativas de cada objecto, foram produzidos textos que explicavam mais detalhadamente  o seu funcionamento, esquemas e desenhos em corte onde se podia observar as várias componentes técnicas. A inclusão de anúncios da época, que publicitavam os objectos, tanto para fins de ensino como para fins científicos e domésticos, ajudou a reforçar o carácter diacrónico que se queria obter.                   

Ressaltamos ainda dois aspectos que contribuíram para a eficácia da exposição: a montagem do estereoscópio de forma a poder ser experimentado e a simulação digital dos efeitos de projecção que se obtinham com a lanterna mágica. Estes recursos permitiram uma maior dinâmica e a interacção com o público.

Esta exposição cumpriu os seus objectivos: a transmissão de valores de excelência e modernidade associada a um percurso histórico de grande competência e prestigio. Essa imagem positiva suscitou, nas várias gerações de professores, pais e alunos presentes, o orgulho na instituição e nos métodos de ensino praticados.

3. Ver, Fazer e Aprender – o ensino experimental no início do século XX

A exposição surgiu no âmbito do Colóquio – “Educar, aprender e viver em Portalegre, percursos de investigação e intervenção”, realizado no dia 26 de Novembro de 2010, na Escola Superior de Educação.

Foi-nos solicitada a realização de uma exposição que revelasse o património museológico da escola, dando continuidade ao  trabalho de investigação e divulgação desenvolvido nos anos anteriores.

Na prospecção efectuada para definir o tema da exposição, entre os instrumentos de Física, deparámos com um antigo catálogo alemão, de materiais didácticos, do início do século XX. Após a sua consulta verificámos que muitas das peças aí referenciadas constavam do espólio da escola, estando a maioria inventariada.

Desenvolvemos um conceito centrado no catálogo, de forma a demonstrar  a preocupação existente na época com a actualização dos processos de ensino, de acordo com os modelos europeus mais avançados. Algumas escolas portuguesas, e também o Liceu de Portalegre, implementaram novos modelos de ensino centrados na observação e experimentação,  equipando os laboratórios com novos instrumentos, muitos deles importados. As empresas que os produziam comercializavam-nos através de catálogos, com uma difusão por todos os continentes, o que possivelmente ocasionou um tipo de aprendizagem “global” das ciências experimentais.

A montagem da exposição e o espaço expositivo estavam centrados no catálogo. Reproduzimos de seguida a legenda colocada junto do mesmo para que melhor se possa verificar a sua relevância:

Instalaciones y aparatos para la Enseñanza de la Física – por E. Leybold’s Nachfolger, Colónia (Alemanha) – Inprenta de Paul Gehly, Colónia

Edição, em castelhano, do inicio do século XX, (2ª década) da firma alemã E.Leybold’s Nachfolger.

Trata-se de um manual de venda de instrumentos científicos direccionados para o ensino experimental da Física e da Química.

A edição conta com 956 páginas, e referencia 16 633 instrumentos organizados num sumário, por especialidades, com especial destaque para as seguintes entradas:

Medida de magnitudes de espacio y de tiempo; Mecânica; Teoria de las ondulaciones; Acústica; Calor; Óptica; Magnetismo; Electricidad; Diapositivos;Mapas; Preparaciones microscópicas; Aparatos de uso general y para experiencias de química; Apêndice; Colecciones de aparatos de diferentes precios; Colecciones normales; Índice.

O manual, ilustrado com gravuras que reproduzem os instrumentos, faz também a descrição dos mesmos e dá instruções para a sua correcta utilização. Conta ainda com a indicação do preço, expressa em francos, de cada instrumento, ou de cada colecção.

Nas páginas iniciais descreve observações e condições comerciais relativos a pedidos de aquisição, envios, reclamações, preços e pagamentos.

Apresenta ainda uma página em que refere que em 1913 o governo da República do Chile fez uma encomenda de 180.000 francos, para equipar os gabinetes de Física das Escolas Superiores. Referencia também um conjunto de prémios obtidos em diversas exposições.

Num folheto contido no interior, com o título de – AnerKennungen (reconhecimento) - apresentam-se excertos de correspondência enviada, atestando a satisfação de variadas escolas em várias partes do mundo: Alemanha, Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Espanha, Itália, Suíça, Estados Unidos, Canadá,  Filipinas; Ceilão, Nicarágua, México, etc.  

 

A exposição foi organizada  em vários núcleos de objectos representativos de diferentes áreas de estudo da Física: Electricidade, Magnetismo, Óptica, Pressão, Massas e Balanças de Precisão.

Junto de cada conjunto de objectos foram colocadas  reproduções (ampliadas) das páginas onde os mesmos se encontravam referenciados. Cada objecto foi identificado com uma legenda identificativa com uma explicação sobre o seu funcionamento e processo de demonstração.

Numa parede podiam observar-se fotografias (em grande formato), dos antigos laboratórios do Liceu de Portalegre, onde se identificavam muitos dos objectos expostos. 

Para a identificação e estudo dos objectos expostos utilizámos o inventário digital do Património Digital da Educação que se mostrou de grande utilidade, confirmando a vantagem e a necessidade de continuar o trabalho desenvolvido no estudo do espólio museológico.

Nota final

A realização das exposições descritas foi a primeira tentativa sistematizada de divulgação de um património de qualidade inegável, tanto pelo seu interesse material como pelo seu valor enquanto testemunho da memória da escola. A história das práticas pedagógicas, inerente a esse património, é também a história da evolução da sociedade. Estudar os objectos do passado ajuda-nos a reconstruir e a compreender  melhor as gerações que a eles estiveram associadas. A reconstituição do património escolar  tem sido motivo de estudo pela importância de que o mesmo se reveste na construção da identidade social.

As acções descritas anteriormente contribuíram para essa construção, assim como possibilitaram uma visão estruturada sobre o espólio da escola.

Com o alargamento do espaço escolar, o inicio do inventário digital e a visão que propiciou as iniciativas descritas, estão criadas condições para determinar os princípios orientadores para a colecção visando a sua disponibilização com atitude pedagógica.