Capa | Revista 09 | Revista 10 | Revista 11

MENU


Editorial

Educar Sempre

- A Minha Escola -

PraCachopos

Metas Curriculares

Trabalho de Grupo

Mudar na Adversidade

A formação entre pares

O Menino Jesus

Desabafo

 

Crónicas de Aprender

Entrevista

Cartoon

 


 

 

Trabalho de Grupo - Avaliação Versus Aprendizagem

Maria Filomena Pastor Sousa Ribeiro
Escola Secundária de São Lourenço

Parece consensual em termos académicos, que não existe planificação de uma qualquer área disciplinar, onde o trabalho de grupo como estratégia de avaliação não seja contemplada. De facto a sociedade do conhecimento exige que os alunos desenvolvam determinadas competências nas quais se integra o saber trabalhar em grupo. Mas esta metodologia não pode apenas ser entendida como um processo de avaliação. O trabalho de grupo é, acima de tudo, uma metodologia de ensino e de aprendizagem que exige do professor um olhar diferente.

Na literatura da especialidade, este modelo de aprendizagem também conhecido como sistema de aprendizagem guiado-cooperativo é entendido como uma prática pedagógica em que os estudantes trabalham juntos para alcançar um mesmo objetivo e onde os esforços individuais não só beneficiam o próprio como os restantes membros do grupo (Kerns, 1996; Overejero, 1990; Johnson e Johnson, 1992; Apodaca, 2006). O processo formativo dentro do grupo implica não só que as atividades de aprendizagem se realizem com os colegas num contexto de interação e colaboração, mas também que os objetivos e os resultados dessa aprendizagem sejam essencialmente do grupo.

Através do conflito sociocognitivo, alunos com capacidades semelhantes podem tomar consciência mais efetiva do conhecimento, e trabalhando a zona de desenvolvimento próximo é possível criar espaços em que os alunos com mais capacidade ajudem os colegas com mais dificuldades. A interação com um companheiro mais competente promove no aluno processos internos de desenvolvimento. O processo de ajuda permite aumentar o rendimento daqueles alunos que apresentam maiores dificuldades na compreensão e desenvolvimento das atividades (Gómez e Insausti, 2004, 2005).

Esta prática pedagógica, para além de poder melhorar a aprendizagem dos alunos, a capacidade para resolver problemas, a participação ativa e responsável no processo ensino e aprendizagem permite também vivenciar experiências e desenvolver competências de relação interpessoal, como sejam atitudes de liderança, de interajuda, de respeito e de partilha. Outra vantagem do trabalho de grupo apontada por autores como Caprio, (1993), é a redução da ansiedade. De facto, a motivação para trabalhar em benefício mútuo e o trabalho baseado na confiança levam ao estabelecimento de um nível moderado de excitação com baixos níveis de ansiedade e tensão.

Competências como a comunicação e a avaliação podem também ser desenvolvidas através desta técnica. As discussões envolvem, necessariamente, uma atenção aos fundamentos da argumentação e ao treino de competências comunicativas, como, por exemplo, tomar decisões e emitir opiniões, dar razões explicativas, descobrir a consistência ou não das argumentações dos colegas e interpretar as suas opiniões (Cirigliano e Villaverde, 1997).

Na resolução de situações problema, o trabalho de grupo é importante, por duas ordens de razões, uma de natureza instrumental e outra de natureza fundamental. O apoio do professor ao aluno torna-se mais produtivo se os mesmos estiverem a trabalhar agrupados. Por outro lado, é através do diálogo, da troca, da dúvida, do conflito e da argumentação que os educandos se apercebem da variedade de interpretações possíveis de uma mesma fonte de informação. Trata-se, portanto, como salienta (Lopes, 1994) de um clima que propicia a aprendizagem cooperativa, onde haverá, certamente, lugar para o confronto de conceções e de estratégias de resolução, criando conceitos e ultrapassando conceções alternativas existentes. Através da comunicação entre eles, deverão chegar a acordo quanto ao desempenho da tarefa proposta.

Há, todavia, que reconhecer que apesar dos benefícios da aprendizagem em grupo, a cooperação apresenta por vezes algumas limitações (Johnson e Johnson, 1999), como é o caso dos alunos que se aproveitam do trabalho dos outros em rendimento próprio, nomeadamente quando está em jogo uma nota. Na opinião de Watson (1992), esta condicionante pode ser ultrapassada quando se consegue promover nos alunos o sentido de responsabilidade individual, característica fundamental na aprendizagem em grupo.

Em suma, o trabalho de grupo é um elemento essencial das metodologias que promovem a aprendizagem por resolução de problemas e, consequentemente, o desenvolvimento cognitivo, preparando os alunos para uma vida profissional em que a equipa e a articulação entre os seus elementos é essencial.

Bibliografia

Apodaca, P. (2006). Estudio y trabajo en grupo. In Mario Miguel (Coord.), Metodologías de enseñanza y aprendizaje para el desarrollo de competencias. Madrid, Alianza.

Caprio, M. W. (1993). Cooperative learning – The jewel among motivational-teaching techniques. Journal of College Science Teaching, 22 (5), 279-281.

Cirigliano, G. e Villaverde, A. (1997). Dinâmica de grupos y educación. Fundamentos y técnicas. Buenos Aires: Lumen-Humanitas.

Gómez, G. J. A. e Insausti, T. M. J. (2005). Un modelo para la enseñansa de las ciências: análises de dados e resultados. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 4, 3, artigo 2. Disponivel em http://www. saum.uvigo.es

Jonhson, D. W. e Jonhson, R. T. (1992). Positive Interdependence: Key to effective cooperation. In R. Hertz-Lazarowitz e N. Miller (Eds.), Interaction in cooperative groups. The theoretical anatomy of group learning. Cambridge: Cambridge University Press.

Kerns, T. (1996). Should we use cooperative learning in college chemistry? Journal of College Science Teaching, 25(6), 435-438.

Lopes, J. B. (1994). Resolução de problemas em Física e Química – Modelo para estratégias de ensino-aprendizagem. Lisboa: Texto Editora. 

Ovejero, A. (1990). El aprendizaje cooperativo: Una alternativa eficaz a la enseñanza tradicional. Barcelona: Promociones e Publicaciones Universitarias, S.A.

Watson, S. B. (1992). The essential elements of cooperative learning. The American Biology Teacher, 54(2), 84-86.