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PraCachopos

Paula Ferreira
Agrupamento de Escolas de Arronches

“Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa,
nunca tem medo e nunca se arrepende.”

Leonardo da Vinci

Quando julgamos que, em termos de experiência profissional, e após longos anos a ensinar, já nada nos surpreende, deparamo-nos com a “oportunidade” de vivenciarmos um novo projeto que vai relativizar todos os conceitos do “docere” até então conceptualizados.

Assim, foi criado, em Arronches, o Lar de Infância e Juventude Especializado (LIJE) denominado “PraCachopos”, uma resposta social com o objetivo de acolher jovens oriundos de todo o país, do sexo masculino e com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, em situação de perigo e com perturbações do comportamento associadas a problemas de saúde mental, mediante a devida seleção feita pelo Departamento de Desenvolvimento Social e Programas do Instituto de Segurança Social.

No âmbito deste projeto, os jovens foram obrigatoriamente matriculados no Agrupamento de Escolas de Arronches que, em parceria com o LIJE, encontrou um modelo escolar/ formativo, que assentou na criação de um Curso de Ensino Básico Vocacional de 2º ciclo, que promoveu, simultaneamente, a criação de parcerias com entidades e instituições locais.

Tentou-se, então, e tendo em conta o facto dos alunos se encontrarem em regime fechado, um projeto que reorientasse o seu percurso escolar, permitindo a conclusão do 2º ciclo e simultaneamente permitisse um prosseguimento de estudos no ensino secundário.

A população discente deste projeto é sobremaneira peculiar, visto que os jovens que integram este projeto possuem, associado aos problemas de comportamento e oposição, outro tipo de psicopatologia, nomeadamente deficiências mentais ligeiras ou atrasos globais do desenvolvimento. O universo dos jovens que constitui este grupo tem como denominador comum uma perturbação emocional. Todos partilham percursos individuais tristes e traiçoeiros. A estas práticas acresce, na maior parte dos casos, comprometimentos cognitivos, que torna duplamente exigente a tarefa de que os docentes, que comungam deste projeto, foram imbuídos.

Como estes elementos se encontram numa modalidade de acolhimento permanente, num programa residencial especializado, dispondo de uma equipa Técnica/ educativa pluridisciplinar que desenvolve projetos de promoção e proteção, os docentes dirigem--se à instituição, e aí lecionam as suas disciplinas em salas de aula, com a presença de educadores, com formação específica que intervêm sempre que surgirem situações de risco.

Na prática diária a equipa pedagógica, que faz entre si uma coesa coordenação, esforça-se por encontrar um modelo escolar formativo que seja desenvolvido dentro do próprio Lar, e que potencie as aptidões individuais de cada jovem, de acordo com as suas características próprias, as suas vivências e os seus objetivos de vida.

Assim, este grupo específico de docentes foi, no início do ano letivo, selecionado para lidar com estes “cachopos” que apresentavam elevados níveis de abandono escolar prolongado, insucesso escolar, dificuldades cognitivas, baixos períodos de atenção/concentração, dificuldades de funcionamento em grupo, baixa tolerância à frustração e elevados níveis de desorganização emocional.

Todo o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido visa que este grupo de alunos potencie as suas capacidades, assimilando regras de trabalho coletivo, valorizando o esforço e o espírito de iniciativa, pois, em termos gerais, foi dada como missão específica contribuir para a formação de cidadãos ativos, conhecedores de direitos e deveres, dotados de autonomia e capazes de exercer uma cidadania responsável.

Como o LIJE trabalha com um sistema de avaliação comportamental, os docentes avaliam, diariamente, todos os alunos, através do preenchimento de uma grelha específica, criada pela instituição, a partir da qual são definidas as consequências (positivas ou negativas) do seu comportamento.

A equipa docente, em parceria com a equipa do Lar, tem verificado alguns progressos nestes jovens, nomeadamente um aumento da motivação pelas matérias lecionadas, uma melhoria considerável da autoestima, e um crescendo nas relações interpessoais positivas, estabelecidas, sobretudo com os docentes que diariamente interagem com este grupo de alunos tão peculiar.

E depois de iniciarmos esta “aventura” que só agora começou, resta-me repetir as palavras sábias que li algures que se encaixam perfeitamente na experiência que estou a vivenciar neste projeto: “Ser professor é um estado e não uma condição, pois quando se é não se demanda o título, vive-se na ação.”