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O A. E. N.º 3 de Elvas

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Entrevista

Cartoon

  


 

 

O papel da Terapia da Fala

Inês Dinis
Agrupamento de Escolas do Bonfim

 “Se perdesse todas as minhas capacidades, todas elas menos uma, escolheria ficar com a capacidade de comunicar, porque com ela depressa recuperaria todo o resto...”

Daniel Webster

A capacidade de comunicação é o veículo que permite relacionarmo-nos com os outros e com a própria vida. Desde que nascemos que estamos em constante desenvolvimento desta competência e de outras, como a de alimentação. Iniciamos o nosso percurso comunicativo com a predisposição genética e com os instrumentos básicos que nos permitem aceder às necessidades que nos rodeiam. Com o crescimento, essas necessidades vão-se modificando e com a devida estimulação, a nossa comunicação vai-se especializando. Da mesma forma, a modificação do nosso corpo, nomeadamente da estrutura orofacial, vai-nos permitindo integrar novas experiências alimentares na nossa vida. Estas duas competências estão interligadas e vão-se influenciando mutuamente ao longo do desenvolvimento.

O Terapeuta da Fala é o profissional responsável pela avaliação e intervenção na área da comunicação e da deglutição, desde o nascimento até ao final da vida. Contudo, dependendo do contexto em que se enquadra, a sua atividade vai-se especializando de acordo com a população que acompanha. Assim, pode desempenhar funções em contexto hospitalar, educacional ou institucional.

A Terapia da Fala na Educação Bilingue de Alunos Surdos

 Em contexto educacional, a contratação do Terapeuta da Fala pressupõe geralmente a integração numa Unidade de Multideficiência, de Ensino Estruturado ou numa equipa de Educação Bilingue de Alunos Surdos (EBAS) /Escola de Referência na Educação e Ensino Bilingue de Alunos Surdos (EREEBAS). Pode ainda, desempenhar funções paralelas como a avaliação de alunos que sejam referenciados e eventual acompanhamento dos mesmos.

Integrando uma equipa de Educação Bilingue de Alunos Surdos, o Terapeuta da Fala desempenha funções que se prendem com a avaliação e intervenção das capacidades comunicacionais dos alunos com surdez, desde o ensino pré-escolar até ao ensino secundário. Atua num espetro variado de competências, nomeadamente: audição; reflexão sobre a própria língua, designadamente dos seus fonemas (consciência fonológica); compreensão e expressão oral; compreensão e expressão escrita; articulação; ressonância; voz; leitura facial; comunicação total (que engloba várias estratégias comunicacionais). Tudo o que promova a estimulação do desenvolvimento da linguagem do aluno deve ser objetivo do plano de intervenção do Terapeuta da Fala.

 Atualmente, a tecnologia auditiva permite ao indivíduo com surdez obter melhores ganhos auditivos, não obstante poder apresentar um grau de surdez significativo. Os aparelhos auditivos e implantes cocleares possibilitam, em muitos casos, aceder a níveis de audição superiores e até próximos da normalidade. Todavia, a jornada não termina nesta fase. Pelo contrário, é necessário um trabalho frequente de estimulação auditiva para que estas crianças consigam detetar, localizar, discriminar e compreender o que está a ser produzido verbalmente ou não verbalmente. Normalmente é este o ponto de partida para a intervenção em Terapia da Fala, que pode ser alterado conforme a necessidade de cada caso. Para além disso, os alunos integrados na EBAS/EREEBAS podem, ainda, apresentar perturbações concomitantes como as de deglutição, mastigação, respiração (respiração oral) e de motricidade orofacial, cuja responsabilidade também é deste técnico.

A intervenção do Terapeuta da Fala é diretamente proporcional ao trabalho da equipa envolvente, sendo que a sua constituição inclui o próprio aluno e meio familiar, os professores, educadores, técnicos, auxiliares da ação educativa e outros intervenientes que o acompanhem. A sua envolvência com o contexto da surdez e com a Língua Gestual Portuguesa também são fatores determinantes para o progresso do aluno. Apenas reunidas todas estas condições, poderão ser estabelecidas pontes entre “o mundo oral”, que por vezes é de difícil acesso, principalmente em fases mais precoces, e “o mundo gestual”. Desta forma, a linguagem deve ser contemplada de forma global, bem como a estruturação dos conceitos, uma vez que “uma palavra que não representa uma ideia é uma coisa morta, da mesma forma que uma ideia não incorporada em palavras não passa de uma sombra.” (citado por Lev Semenovich Vygotsky). Só assim é possível generalizar as aprendizagens realizadas em diferentes contextos para o quotidiano atual dos alunos, de maneira a que influenciem positivamente o seu percurso futuro de vida.