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Editorial

Educar Sempre

O A. E. N.º 3 de Elvas

- Crónicas de Aprender -

O MLA e a Cegonha

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Associação de Estudantes

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Entrevista

Cartoon


 

 

O MLA e a Cegonha

Eduardo Relvas
 

Olá Simão!

 

Oi Relvas!

 

São cumprimentos usuais num dia qualquer dos finais de Abril entre dois amigos, e foi assim que nasceu este pequeno texto para a “Profforma”.

Nesse encontro casual, o Diretor do Centro adiantou que já tinha pensado em propor-me que escrevesse um artigo para a revista do CEFOPNA. O meu subconsciente impeliu-me a responder que não estava disponível, dado que não gosto de escrever. Mas, por outro lado, obriguei-me a aceitar a proposta, não só por uma questão de cortesia, mas também porque sempre tenho seguido o princípio de aceitar tarefas que à partida detesto fazer, talvez para ultrapassar uma certa timidez que sempre me acompanhou.

Foi assim, por exemplo, que aceitei muito cedo uma proposta para integrar, como vogal, uma lista para o Conselho Diretivo (CD) da Escola Industrial e Comercial de Portalegre, agora Secundária de S. Lourenço (ESSL), corria o ano letivo de 1977/78. Note-se que tinha entrado para o ensino naquela escola em Novembro de 1975, acabando por fazer três mandatos nesta situação até 1983.

Do mesmo modo, em 1990, ao formar-se uma lista candidata ao CD da ESSL aceitei na condição de ser presidente, para espanto de todos.

Mas não vou escrever o meu currículo pois não era nesse sentido do convite que me foi endereçado, mas sim para abordar qualquer episódio interessante da vida da escola.

Bom, mas sobre o que é que hei-de escrever? Dou voltas à cabeça, mas nada me ocorre… é que sou péssimo a recordar o passado. Aliás dou um conselho aos mais novos: guardem registos das passagens mais relevantes das vossas vidas, pois nunca se sabe se, mais tarde, não vos darão algum jeito seja para o que for.

Ah! Já sei, vou falar um pouco sobre as obras de requalificação da escola. Um período duro, exemplarmente ultrapassado por toda a comunidade escolar, em especial os alunos que foram os que mais sofreram neste período com falta de espaços, muito ruído e pó, WC exíguos, etc.

Bom, embora muita coisa houvesse que dizer deste período, certamente seria enfadonho e não passaria de enumerar uma série de contrariedades que porventura acontecem em todas as obras pese o facto de estas serem de grande envergadura e decorrerem com a escola a funcionar.

Não, definitivamente não falarei de obras. Mas o que será então? E eu que não escrevi umas memórias que bastante jeito me davam agora.

Talvez as comemorações dos 100 da Escola em 1984, que ficaram marcadas na minha memória por um episódio insólito.

Para além das comemorações na Escola com exposições, uma grande festa de convívio e outras atividades, foi ainda planeado um encontro de escolas centenárias na serra da estrela. Responderam a este apelo, se a memória não me falha, a Escola Francisco de Holanda de Guimarães, a Escola Campos de Melo da Covilhã e, naturalmente, a ESSL. O encontro ficou agendado para o início de Junho, talvez a 3 de Junho de 1984.

De Portalegre saiu um autocarro com alunos e professores. A viagem, com chuva quase todo o dia, foi muito atribulada pois o autocarro avariou várias vezes tendo sido mesmo necessário regressar a Portalegre num outro. Mas, como se isso não bastasse, não demos com o local do encontro, e iniciámos a subida para as Penhas da Saúde. Ao fim de pouco tempo, para espanto de todos, começou a nevar.

Recorde-se que telemóveis era coisa que naquele tempo só nos filmes de ficção científica.

Mas lá apareceu o nosso colega Dinis Pacheco, que se tinha deslocado de automóvel, e nos conduziu de volta à cidade da Covilhã onde, num pavilhão desportivo, acabámos por realizar a nossa festa de confraternização com as outras escolas, tendo falhado grande parte das atividades devido ao atraso.

 

Recordo ainda com saudade o MLA, falta o significado da sigla: “Movimento de Libertação do Alentejo”. Bem, não se tratava de um movimento separatista ou qualquer coisa do género. Na verdade, mais não era do que um grupo de professores, todos homens, da ESSL, nesse tempo Escola Industrial e Comercial de Portalegre, que, de vez em quando, se juntava para uma petiscada na quinta de algum dos elementos, que era “ocupada pacificamente” por algum tempo, ou noutro local qualquer.

Disse que o grupo era constituído só por homens. Todavia, de vez em quando, algumas colegas questionavam por que razões não podiam participar nesta tertúlia.

E foi assim que se fez uma votação, por voto secreto, numa das reuniões do grupo.

É óbvio que as mulheres continuaram a ficar de fora!

Por vezes acontecia, que nem todos os elementos sabiam a localização exata do encontro, é claro que não havia GPS’s, e porque a guarda avançada saía mais cedo da cidade, diga-se o grupo que preparava a refeição, deixavam-se umas placas em locais estratégicos com a sigla “MLA” e umas setas a indicar o caminho.

Num dia em que o “MLA” fez a "ocupação pacífica” dos terrenos do colega S. Pedro, logo pela manhã fomos surpreendidos pela visita de uma patrulha da GNR que, seguindo as indicações, talvez pensando que se tratava de uma reunião clandestina, se preparou para nos surpreender em flagrante delito, mas, após os devidos esclarecimentos, tudo se resolveu e os homens ainda beberam um copo connosco.

Quase sempre era nomeado um dos elementos para fazer uma ata do encontro, relatando ao pormenor, e com humor, todos os episódios, desde quem bebeu um copo a mais ou outras peripécias que sempre aconteciam.

Um dia, numa das tais "ocupações” fomos até à barragem da Póvoa. Durante o dia apareceu uma cegonha, que nos pareceu doente, e, por isso, logo o colega Zagalo a apanhou e levou para casa.

Foi um espetáculo, o transporte do bicho para Portalegre numa velha caixa de papelão, com a cabeça de fora.

Já em Portalegre foi submetida a uma operação, pelo Colega Zagalo, segundo este para extrair um ovo que tinha ficado atravessado. Ficou, a partir dessa data, a viver em casa dele. Gostava muito de umas embalagens pequenas de carapaus congelados.

Por brincadeira, ele costumava dar-lhe os carapaus, com o rabo voltado para ela. O bicho, que não era parvo e sabia que engolir o carapau nessa posição, com as barbatanas ao contrário, podia ser perigoso, recebia-o, atirava-o ao ar de modo a que se voltasse, apanhando-o de seguida com a cabeça voltada para si, e era assim que o engolia. O tempo foi passando, e embora já curada nunca quis levantar voo. No verão, o colega Zagalo saiu com parte da família para férias e deixou algum dinheiro a um dos filhos, entre outras coisas, para os carapaus da cegonha.

Fosse porque ele gastou o dinheiro noutras coisas, ou por qualquer outro motivo, a cegonha, talvez com fome, fugiu.

Mais tarde apurámos que o animal foi caminhando ao longo da avenida George Robinson, (esqueci-me de dizer que o nosso colega Zagalo vivia perto da Escola,) até ao quartel, que fica ao lado da escola, passando a sentinela que lhe deu entrada, não sabemos se se pôs em sentido ou não, e por lá ficou, como mascote.