PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

Projeto Fénix: percursos na busca do Sucesso Escolar

Luísa Moreira
Coordenadora Nacional do Projeto Fénix

Introdução

O Projeto Fénix surge, em 2008, na tentativa de construir uma resposta que pudesse garantir condições de igualdade de oportunidades de sucesso numa Escola com todos e para todos. Assenta a sua intervenção na gestão de fatores organizacionais e pedagógicos ao nível da constituição das turmas, das modalidades de apoio educativo, da organização de tempos e espaços, da gestão de recursos humanos e do currículo. A inovação surge, neste Projeto, como um conceito intimamente ligado à mudança, isto é, à melhoria de práticas educativas e pedagógicas, tanto na aceção de eficácia como na de melhoria de processos inerentes à organização educativa.

Algumas das máximas que norteiam a tecnologia organizacional Fénix são:

  • a crença de que todos os alunos podem aprender e que os professores ensinam fazendo a diferença;

  • a reorganização dos grupos de alunos, mediante a operacionalização dos Eixos I e II;

  • a necessidade de construir e (re)configurar as práticas docentes e os ambientes de aprendizagem, adequando-os aos contextos de escola e aos perfis de alunos, através da implementação de estratégias de ensino-aprendizagem eficazes, colaborativas, interativas e reflexivas;

  • a valorização do trabalho em rede pelas escolas que permite tecer uma teia de olhares que entrecruza diversas culturas de escola e modos de ação criando, cada vez mais, encontros alargados de discussão, partilha e reflexão; e

  • a valorização do trabalho colaborativo e cooperativo, através de formação-ação docente contínua, em contexto e entre pares.

Projeto Fénix: dinâmica organizacional

O modelo organizacional do Projeto Fénix assenta em dois Eixos – I e II . O Eixo I baseia-se numa dinâmica que passa pela criação de um ninho de desenvolvimento, que, no caso do 1.º ciclo do Ensino Básico é acompanhado pelo professor titular, ficando o professor de apoio (professor Fénix) na turma-mãe com o grande grupo. O professor titular é quem melhor conhece as reais dificuldades dos seus alunos, pelo que saberá cirurgicamente o que explorar, de modo a superar as lacunas concretas de cada um. Nos momentos em que o professor Fénix fica com a turma, tem oportunidade de implementar metodologias pedagógicas diversas, centradas nos alunos, os quais têm um papel mais ativo na construção do saber. Estas são desenvolvidas mediante estratégias de ensino-aprendizagem que exploram o pensamento crítico, a criatividade, a resolução de problemas, a comunicação efectiva, entre outras competências, integrando diferentes áreas do saber. Estas devem decorrer de uma articulação entre professores de várias disciplinas e ciclos de ensino, promovendo a interdisciplinaridade e reforçando o trabalho colaborativo e cooperativo. A operacionalização fica à responsabilidade dos intervenientes no processo que deverão ter em conta que esta dinâmica não deve exceder as 6 horas semanais, no apoio às áreas curriculares de Português e/ou Matemática, ou outras disciplinas/ áreas a intervir.

Nos 2º e 3º ciclos do Ensino Básico, as turmas Fénix e o ninho funcionam ao mesmo tempo e no mesmo horário, nas disciplinas a intervir – Português, Matemática e/ou outras que a escola assim o entenda - o que significa que não há sobrecarga no horário escolar. O tempo que os alunos passam no ninho depende, naturalmente, da evolução de cada um, tendo por base uma avaliação contínua do seu progresso. Semanalmente, num tempo letivo de 45/50 minutos, devem ser programados momentos de interação entre todos os alunos, os que ficaram com o professor titular e os que ficaram com o professor Fénix, privilegiando-se nestes momentos a evolução das aprendizagens e dos métodos de ensino. O ninho de desenvolvimento do Eixo I pode funcionar com alunos de distintos perfis: alunos de baixo rendimento escolar (BRE) ou alto rendimento escolar (ARE). No primeiro caso, os processos de ensino-aprendizagem têm o intuito de recuperar as lacunas observadas ao nível dos conteúdos e das competências, ficando estes com o professor titular; no segundo caso, o trabalho realizado tem o intuito de promover a excelência, dando a possibilidade aos alunos de desenvolverem as suas capacidades e de alargar o seu potencial.

No Eixo II esta dinâmica pode ser implementada em qualquer ano de escolaridade e ciclo de ensino. Não envolve recursos ou custos adicionais, apenas uma reorganização pedagógica e funcional diferente. Operacionaliza-se constituindo grupos de alunos provenientes de diferentes turmas, tendo por base a identificação de conteúdos, bem como dos objetivos de aprendizagem a alcançar. As metodologias pedagógicas poderão também visar a realização de projetos, que contemplando várias fases, se ajustam a esta dinâmica. Esta é independente do ano de escolaridade, existindo a mobilidade de alunos numa dinâmica inter-turmas, tendo em conta os objetivos contratualizados entre os docentes e os alunos. É uma solução versátil e flexível ajustando-se à medida de cada turma, cada disciplina/ área, cada escola e finalidade pretendida (Martins & Alves, 2009; Azevedo & Alves, 2010; Alves & Moreira, 2011,2012; Moreira, 2014 e Azevedo et al., 2014).

 Estratégias de ensino-aprendizagem para os alunos do séc. XXI

As escolas Fénix, na sua maioria, assentam já numa cultura consciente de que os alunos não poderão ficar apenas pelo saber ler, calcular e escrever. Privilegiam, também, outras mudanças e operacionalizam um novo caminho de promoção do sucesso, que vá ao encontro das expectativas dos alunos, das suas curiosidades, das suas vivências e experiências de vida.

Isto implica investir, cada vez mais, em dinâmicas de sala de aula diferenciadas e diversificadas, quer ao nível dos conteúdos e competências, quer ao nível das estratégias. Assim, a escola transforma-se numa janela de oportunidades face aos desafios do futuro.

Perante esta realidade, as escolas que abraçam o Projeto Fénix privilegiam a autoria dos docentes e as lideranças de sala de aula, por forma a fazer a melhor gestão das metas curriculares, em função do que se considera fundamental que os alunos não deixem de saber. O currículo deve ser visto como um conjunto de experiências de aprendizagem que permite o desenvolvimento dos alunos, respeitando as diferenças interindividuais, percecionadas como mais-valias na promoção da igualdade de oportunidades. Assim, a autoria docente e a cultura de escola determinam um contexto avaliativo coerente e prementemente formativo, contextualizado e articulado com o currículo e as metas.  A integração da avaliação nos processos de ensino deverá ser quer sumativa quer formativa, diversificando estratégias e instrumentos, permitindo estabelecer interações bilaterais entre os alunos e o professor, a auto e heteroavaliação e a autorregulação das aprendizagens. 

Neste Projeto, centrado nos alunos e nas aprendizagens, é crucial que todos os intervenientes nos processos educativos partilhem ideias similares acerca da qualidade dos resultados que se querem atingir. Desta forma, a avaliação tem que incidir sobre o currículo das diferentes áreas disciplinares/disciplinas em cada ciclo de ensino e ser ajustada aos contextos e às metas de aprendizagem, enquanto referencial comum de resultados a alcançar pelos alunos (MEC – Direcção-Geral de Educação, 2012).

 A Formação de Professores – “Práticas de ensino eficazes no âmbito do Projeto Fénix”

Para além de promover as metodologias organizacionais com a criação de turmas e ninhos dinâmicos de alunos, o foco do Projeto Fénix está também na sala de aula e nas estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas nos grupos-turma e nos ninhos, para que as aprendizagens sejam mais significativas e de qualidade.

Estas estratégias de ensino-aprendizagem mais eficazes, diversificadas e adequadas aos contextos de escola e perfis de alunos têm em conta diversos fatores que devem estar assegurados na escola, nomeadamente, o trabalho colaborativo e cooperativo entre disciplinas e ciclos, a liderança e autoria pedagógica, o trabalho intra e interescolas, a organização e recursos dos ambientes de aprendizagem, a flexibilização no agrupamento de alunos e a predisposição docente.

Os professores têm estilos muito variados de ensino e enfrentam salas de aula muito heterogéneas. Sendo a arte de ensinar complexa e repleta de nuances deve ser promovido o empowerment dos professores através de comunidades profissionais de aprendizagem, entre pares e em contexto.

Assim, surge a necessidade de envolver os professores de cada Escola numa reflexão conjunta, e na criação/construção de um conjunto de estratégias de ensino – aprendizagem eficazes e adequadas aos contextos educativos de cada Escola e aos perfis de alunos.

No sentido de concretizar esta estratégia de ação, surge a implementação um modelo de investigação – ação que se estrutura em três momentos:

  • Num primeiro momento, pretende-se conhecer as perceções dos alunos e professores de cada agrupamento de escolas face às práticas pedagógicas usadas;

  • Num segundo momento, é fundamental envolver os docentes num modelo inovador de formação contínua de apropriação de estratégias de ensino – aprendizagem eficazes, num ambiente de práticas supervisionadas, primeiro entre pares em contexto formativo e depois em ambiente de sala de aula;

  • Num terceiro momento, pretende-se conhecer novamente as perceções dos alunos e professores de cada agrupamento de escolas, face às estratégias pedagógicas apropriadas nesta formação, com o intuito de analisar o impacto das mesmas nas práticas e a possibilidade de definir um quadro que possa servir como referência para cada escola.

Este modelo de investigação – ação é passível de ser implementado em qualquer escola, por todos os docentes de qualquer área e ciclo de ensino, colmatando a necessidade de formação contínua a par com a supervisão pedagógica entre pares. Neste momento estão a decorrer em Agrupamentos de Escolas do ensino público, experiências piloto desta formação – ação.

A finalidade desta formação é criar um terreno fértil para implementação de um referencial de boas práticas de ensino eficaz, fruto do trabalho colaborativo, cooperativo, criativo e interdisciplinar dos docentes de cada escola. Este referencial de boas práticas será construído e debatido nos departamentos curriculares e aprovado em Conselho Pedagógico.

Referências Bibliográficas

Alves, J. (2010). Modelo didáctico e a construção do sucesso escolar. In Projeto Fénix Mais Sucesso para todos. Memórias e dinâmicas de promoção do sucesso escolar (67-74). Porto: Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa.

Alves, J., & Moreira, L. (orgs.) (2011). Projeto Fénix: relatos que contam o sucesso. Porto: Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa.

Alves, J., & Moreira, M. (orgs.) (2012). Projeto Fénix: As artes do voo e as ciências da navegação. Porto: Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa.

Azevedo, J. (2010). Como construir uma escola de qualidade para todos, onde se aprenda melhor? In Azevedo & Alves (orgs.). Projeto Fénix - Mais sucesso para todos. Memórias e dinâmicas de sucesso escolar. Porto: Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa.

Azevedo, J., & Alves, J. M. (orgs.). (2010). Projecto Fénix Mais Sucesso para todos. Memórias e dinâmicas de promoção do sucesso escolar. Porto: Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa.

Azevedo, J., Gonçalves, D., Gonçalves, J., Silva, C., Nogueira, I., Sousa, J., & Moreira, L. (2014). O que desencadeia o sucesso em alunos com baixo rendimento escolar, no Projeto Fénix. Cadernos Fénix, 1. Porto: Edições ESE Paula Frassinetti, E-book. ISBN: 978-989-98940-1-3. Edição financiada pelo Ministério da Educação e Ciência. Repositório: http://repositorio.esepf.pt/handle/123456789/1482

Direção–Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular [DGIDC] (2010). Programa Mais Sucesso Escolar. Lisboa.

Ministério da Educação e Ciência – Direcção-Geral de Educação (2012). Metas de Aprendizagem. Acedido em setembro, 4, 2015 em http://metasdeaprendizagem.dge.mec.pt/metasdeaprendizagem.dge.mec.pt/index.html