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Empreender é desafiar a obscuridade

José Luís Carvalho
EB1/JI da Boa Fé

Um homem perdeu a chave de casa. Um amigo estava a ajudá-lo a buscar a chave perdida.

Amigo: - Tens a certeza que a chave caiu aqui?

Homem: - Não, foi um pouco mais à frente.

Amigo: - Então porque procuras aqui?

Homem: - Porque aqui há luz! (rifão africano)

Muitas vezes procuramos o caminho mais fácil, queremos estar sempre onde há luz, onde nos sentimos confortáveis. Um empreendedor é aquele que é capaz de arriscar, de sonhar, de explorar novos caminhos, de entrar em mundos desconhecidos e de desafiar os seus temores com optimismo. Para seguir em frente é necessário espírito pioneiro, coragem, esforço, ambição e também muita paciência e muita determinação para enfrentar contrariedades. Por isso, empreender, assim como aprender, estudar, pensar, investigar, é desafiar a escuridão!

A complexa sociedade em que vivemos está num permanente e por vezes vertiginoso processo de mudança, motivado pela globalização da economia, pelos grandes avanços técnicos e científicos, pela omnipresença das tecnologias em todas as actividades humanas, pela alteração de alguns valores tradicionais, pelo imprevisível impacto de crises económicas, sociais e conflitos religiosos. Estas contínuas mudanças têm repercussões directas na forma como vivemos, como trabalhamos e nos relacionamos, nas actividades económicas e também em instituições como o casamento, a família e a Escola.

Por estes motivos cada vez se exige mais aos alunos do presente, futuros cidadãos e agentes de desenvolvimento social e económico do futuro, que se formem na perspectiva de ampliar a sua visão da realidade e do mundo, de enfrentar múltiplos desafios, de procurar oportunidades, de trabalhar e viver em contextos de geometria variável, de estar permanentemente a aceder e a actualizar o conhecimento, em suma… a empreender!

Estimular o empreendedorismo na Escola, a construção de conhecimento, a formação de alunos com capacidade empreendedora, é apostar na criatividade, no trabalho em equipa, no trabalho de projecto, na resolução de problemas, na comunicação e colaboração, na criação de comunidades alargadas de aprendizagem e no desenvolvimento de competências transversais a par das competências disciplinares. Pelo que nos é possível dilucidar até ao momento, serão estes os requisitos chave da aprendizagem na próxima década.

Trabalhar o empreendedorismo na Escola com os alunos, desde a primeira infância, compreende, numa primeira fase, reunir meios e sinergias, capacitar e acompanhar os educadores e os professores que venham a ser os impulsores das primeiras experiências educativas neste domínio, assim como encontrar os espaços de desenvolvimento mais adequados, nomeadamente no âmbito da Oferta Complementar, das Actividades de Enriquecimento Curricular ou de planos/acções da iniciativa dos Agrupamentos de Escolas. Depois, desenvolver o espírito empreendedor através de um prática concertada, abarca envolver os alunos em actividades que os façam sonhar, ter ideias, ser criativos e confiantes, adaptar-se a diferentes cenários, transformar ideias em realidades, arriscar, resolver de forma planeada situações diversificadas e complexas, ser persistentes, envolver a comunidade, trabalhar em equipa e valorizar a interacção, a colaboração e a partilha. Sem nunca esquecer que esta forma de pensar e agir se alicerça em princípios éticos e valores humanos, fundamentalmente de amizade, de solidariedade, de responsabilidade social e de respeito pelos outros e pela mãe Natureza.

Em boa hora os quinze municípios pertencentes à Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo, no exercício da sua autonomia, lançaram o projecto "Alto Alentejo Empreendedor" que visa promover o empreendedorismo social, empresarial e educacional. No âmbito desta rede, realizou-se recentemente uma acção de formação que envolveu professores dos Agrupamentos de Escolas do Alto Alentejo e que contou com a parceria do Centro de Formação de Professores do Norte Alentejo e do Centro Educativo Alice Nabeiro do Coração Delta.

Esta iniciativa regional, que faz sobressair paradigmas e modelos pedagógicos não tão recentes, mas com êxitos demonstrados, pode constituir uma oportunidade para, paulatinamente, renovar a Escola e para a aproximar de muitas das aprendizagens, menos exploradas, que necessita um cidadão completo, com possibilidade de sucesso na actual sociedade.

É também, e acima de tudo, uma iniciativa arrojada, que surge em contra corrente e que por isso, se não for criteriosamente apoiada, sustentada e acarinhada, corre o risco de ser vítima de obstáculos e resistências endógenas ao próprio sistema. A “disciplinarização” do 1° Ciclo de Ensino Básico, a ênfase no "sucesso" medido unicamente pela obtenção de valores esperados e resultados positivos em provas e exames de avaliação, o eventual reforço da aposta nas disciplinas sujeitas a exame nacional (Português e Matemática) em detrimento das outras áreas curriculares, o retorno às rotinas de “transmissão” de conhecimentos em ausência de contextos ricos e significativos, podem vir a provocar a asfixia de programas, projectos e iniciativas como estes, que alargam os horizontes culturais e científicos dos alunos e os preparam para reflectir e agir como cidadãos completos na sociedade em que vivem.