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Editorial

Educar Sempre

A Minha Escola

- Crónicas de Aprender -

Aula Prática

 

Entrevista

Cartoon


 

 

Aula Prática

Maria Filomena
 

Quando me pediram que escrevesse alguma coisa sobre o que foi a minha aprendizagem, valorizando, disseram-me, o facto de não estar ligada à escola, pensei em duas hipóteses: - poderia falar dos intervalos passados no espaço onde é, hoje, a Praça da república (onde vou tantas vezes buscar a minha filha depois da meia-noite), ou contar uma experiência de não aprendizagem. Resolvi ser politicamente não correcta e optei por narrar um episódio que nunca esquecerei…

Devia ter dez ou onze anos, frequentava o 2º ano do então Ciclo Preparatório, hoje 6º ano do ensino Básico. O professor de Ciências Naturais da minha turma era uma figura bem conhecida de Portalegre que impunha respeito com o olhar apenas. Eu tinha medo dele! Confesso que, agora, à luz da memória, não percebo porquê, mas, à época tinha mesmo medo. As aulas de Ciências tinham lugar numa sala cheia de janelas, pelo menos assim a recordo, e, em dias especiais, o professor levava-nos para o que chamava de laboratório. Aí, havia umas mesas de laje negra, tipo ardósia, geladas, a encimar uns pés altos demais para a minha idade. Um dia, o professor perguntou se alguém tinha, por acaso, um coelho que pudesse trazer para vermos alguns órgãos por dentro. Um colega, que vivia nas Carreiras, prontamente se ofereceu para trazer o bicho. Na aula seguinte, lá apareceu o coelho, branco e de olhos vermelhos!, fechado numa caixa de cartão. Mal o meu colega sacou o coelho pelas orelhas, surgiu um coro feminino de tão lindo, tão querido, tão fofinho… O professor impôs silêncio, pegou no animal e anunciou que ia matá-lo para depois o abrir e nos mostrar como era por dentro. O horror superou o medo do professor e houve lágrimas… Decidido, o professor esticou o coelho segurando-o pelas patas traseiras e deu-lhe uma pancada seca por detrás da cabeça. O bicho esperneou, mas não morreu; os gritos de coitadinho aumentaram! Soou um caladas, bem  forte, seguido de nova pancada e novo espernear. Agora, o protesto eram lágrimas soluçadas… O meu colega avançou e, com um com licença setôr, esticou o bicho meio zonzo e matou-o.

O professor colocou-o na mesa gelada e começou a abrir. Não me lembro do resto. Não faço ideia nenhuma onde ficava o coração ou o intestino. O que sei é que, algumas aulas mais tarde, uma colega falou no papo do coelho e o professor perdeu a cabeça…

Já passaram mais de quarenta anos sobre este episódio mas ainda hoje, juro!, tenho viva a imagem do coelhinho branco a espernear sob as pancadas do meu professor. Nunca mais comi coelho na vida e, muitas vezes, quando oiço as minhas filhas falarem de aulas práticas, tremo!!

No entanto, não posso deixar de afirmar que este professor me marcou. E não foi por causa do coelhinho branco…