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Memórias
Jorge de Abreu e
Silva A minha escola primária situava-se em Santa Clara, a freguesia de Coimbra que se estende pela margem sul do Mondego. Mesmo em frente da escola, havia um enorme terreno arborizado – o Rossio – onde se realizava uma feira no dia 23 de cada mês: a “Feira dos 23”. O Rossio enchia-se de uma multidão que vinha dos lugares limítrofes para a compra e venda de tudo o que se possa imaginar, como cereais, legumes, roupas, quinquilharias e principalmente animais: porcos, ovelhas, cabras, bois, burros e cavalos. O movimento e a algazarra eram enormes e já sabíamos que nos dias 23 as nossas aulas decorriam ao som dum estranho ruído de fundo... Hoje em dia, ergueu-se nesse espaço, como sonho realizado, o imponente “Portugal dos Pequenitos”.
A minha escola tinha nas traseiras um enorme pátio térreo em plano inferior, limitado por muros, onde gozávamos o tempo de recreio. Nessa altura, não havia as barragens e a ponte-açude que vieram regularizar o curso do Mondego, o que permitia que, no Inverno, o rio mostrasse as suas “basófias” e galgasse as margens. O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, mesmo atrás da escola e hoje esplendidamente recuperado, ficava periodicamente inundado e o nosso pátio não escapava à regra, transformando-se num imenso tanque de água barrenta, onde era impossível descer. Mas, mesmo assim, servia para nos divertirmos com “corridas” de barquinhos de papel. A “Quinta das Lágrimas” estava bem perto da minha escola. E diz-se que, há muitos centos de anos atrás, também alguém fazia deslizar os seus barquinhos de papel através da água dum canal que os conduzia lá dentro, à “Fonte dos Amores”... Mas esses levavam, escritas por Pedro, preciosas frases de amor, um amor proibido, que a linda Inês aguardava junto à Fonte...
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