PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

 

A crise da verdade

Luísa Moreira
Doutorada em Ciências da Educação pela Universidade Católica Portuguesa

Vivemos um tempo em que a verdade vive uma profunda crise, minando a consciência e o entendimento social, usando-se os mais diversos meios e estratagemas de persuasão para vender meias verdades, distorcendo e torturando os factos até eles falarem o que alguns querem.

Pude observar, recentemente, esse comportamento quando se compararam os resultados dos rankings do ensino privado e os do público, comparando-se aquilo que na prática é incomparável.

A democracia e a legislação contemplam a possibilidade de existirem estas duas propostas - inevitavelmente diferentes.

O que me preocupa, e nos deve preocupar, é a grande assimetria ao nível socioeconómico e cultural dos alunos da escola pública e o caminho a percorrer para que elas se esbatam ao nível do ensino público; perceber a razão pela qual tantos jovens frequentam o secundário, mas não o concluem; ou no ensino profissional onde também aumenta o número de alunos que não concluem os referidos cursos.

Na minha opinião e com base na minha experiência, esta deverá ser a grande reflexão: como promover o envolvimento e o sucesso académico até ao final da escolaridade obrigatória? Como melhorar a nossa atuação? Como podemos ser capazes de mostrar de forma inequívoca a esses jovens, que abandonam e desistem, que o caminho da educação é o que maior probabilidade oferece de alcançarem os seus objetivos de vida?

Esta discussão deveria substituir a eterna discussão entre o sucesso do privado, que é uma realidade, e a fragilidade dos resultados da escola pública que é uma outra realidade.

Precisamos de saber discernir. Mesmo!

Acima de tudo, esses jovens que desistem e abandonam irão integrar uma vida ativa cada vez mais exigente e que requererá diversas qualificações. O País precisa de todos. Todos, sem exceção.

António Damásio escreve: “sempre me fascina o momento exato em que, da plateia, vemos abrir-se a porta que dá para o palco e um artista sair à luz; ou, de outra perspectiva, o momento em que um artista que aguarda na penumbra vê a mesma porta abrir-se, revelando as luzes, o palco e a plateia”.

O tempo letivo pode e deve ser um conjunto de momentos fascinantes de aprendizagem e descoberta. Mas infelizmente e pelo contrário, para muitos, evoca sentimentos de ansiedade e desânimo. De alunos, mas também de professores.

Discursos desfasados, barreiras de comunicação, as diferenças exacerbadas de personalidade e as atitudes que se transportam para dentro de sala de aula, formam uma penumbra que não permite perceber como a solução pode estar (tão) perto.

Mas felizmente já vi e vivi muitas vezes o momento em que os professores e os alunos conseguem ver para além dessa neblina.

Sei que é possível. E se uns puderam, outros poderão.

Não é magia. São, sim, ações e intenções concertadas, combinadas e comprometidas que os transportam para a “plateia” e lhes permitem assistir sem medos a sua própria atuação. É um discurso de unidade, de crer e querer que, consubstanciado pelas suas ações, faz do tempo letivo um tempo de entusiasmo e esperança!

Felizmente, há́ muitas escolas, neste país, que conseguem fazer a diferença na vida daqueles que lá passam. Fazem-no com determinação, proximidade, cuidado, tolerância, profissionalismo, rigor e exigência.

São escolas fascinantes e que fascinam. São escolas que inspiram. São escolas da humanidade onde os nossos alunos podem e devem aprender.

E se essas podem, se essas existem, então as outras também podem ser, fazer e existir.