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Editorial

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Reflexões Pedagógicas

 

Entrevista

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“Algumas Reflexões Pedagógicas”

Dinis Parente Pacheco
 

Numa sociedade em que a violência é já frequente entre os alunos, em que pais vão à escola agredir professores e funcionários, em que jovens esfaqueiam, como foi o caso recente na Stuart Carvalhais, em que o Observatório de Segurança em Meio Escolar perde o apoio do Ministério da Educação e em que os técnicos da área social e psicológica são quase uma miragem, entendo que se impõe uma reflexão séria sobre a importância do professor como educador e formador de jovens.

Ao longo destes tempos, a formação pedagógica tem sido a pedra angular da relação saudável no meio escolar. Claro que me dirão que com todas as condicionantes apontadas, e com alunos cada vez mais problemáticos, a acção do professor torna-se mais difícil, mas mais necessária, representando um aliciante desafio.

Ao longo da minha carreira como docente, sempre estive atento à problemática da educação e, como conscientemente interventivo, fui carreando experiência e conhecimentos.

É em nome de tudo isto que me atrevo a afirmar que ganhar a empatia dos seus alunos é fundamental e isso consegue-se quando, desde a primeira aula, o professor vai transmitindo os valores que o animam. Educar e formar jovens não é possível se não conseguirmos ser um constante exemplo. Não seremos respeitados se não formos os primeiros a respeitar. Também a disponibilidade não deve ser esquecida. Não se pense que é possível obter dos educandos a capacidade de nos ouvir se não formos os primeiros a fazê-lo. Só assim o nosso interlocutor se sentirá à vontade para colocar as suas dúvidas e conversar, expondo-nos os problemas que o afectam.

Na correcção dos testes eram sempre os primeiros a pronunciar-se, com toda a liberdade, dizendo o que pensavam e referindo as questões em que tinham tido maior dificuldade. Claro que normalmente havia coincidência com os elementos estatísticos que recolhera.

Quando essa dificuldade era mais generalizada, interrogava-me e punha-me em causa. Aproveitava para recapitular as matérias de forma a que tudo ficasse suficientemente claro. Neste clima de respeito e empatia o aluno, frequentes vezes, reconhecia que o fraco nível alcançado era consequência de uma deficiente preparação.

Também, como tudo deve ser aproveitado, não era desperdiçada a oportunidade de mais uma vez indicar como se deve estudar. Aliás, os nossos alunos precisam que os ensinemos a estudar, mostrando-lhes que a compreensão daquilo que lêem é a base dum profícuo estudo e indispensável à resposta às perguntas formuladas.

É indispensável que sintam a afectividade com que os tratamos, o que ajuda a eliminar muitos conflitos.

Um outro exemplo que me ocorre é a forma como saibamos não utilizar a repreensão, substituindo-a por uma pergunta oportuna que, evitando querelas, leva a que o aluno reconheça a sua desatenção ou um menos bom comportamento, sem que passe pela desagradável situação de se sentir repreendido.

A empatia com a turma vai aumentando e a autoridade do professor vai sendo aceite pelo aluno e não como uma imposição. Claro que se houver necessidade, para evitar desmandos na aula, devemos agir com firmeza, aproveitando para mais tarde reflectir com os jovens sobre a situação.

Sabemos que há alunos que, por mais que nos esforcemos, terão sempre um trato difícil, na maioria resultantes dum ambiente social e familiar nada saudáveis. Nos momentos mais difíceis, muitas vezes a turma surge como nossa aliada, contribuindo para as soluções.

Nada do que me refiro invalida a necessidade da componente científica e didáctica, que não pode estar ausente da formação dos docentes.

Um outro tema de análise que me ocorre é a comunicação social, incluindo a internet, que é cada vez mais um elemento de maior peso e se transformou num sério concorrente. Claro que estes instrumentos podem ser um aliado, se conseguirmos aproveitá-los convenientemente, quer estimulando os alunos a fazerem deles um elemento de pesquisa indissociável do ensino aprendizagem, de forma que sejam construtores dos seus próprios conhecimentos quer, e sobretudo, no desenvolvimento a um olhar consciente para esse mundo tão determinante das nossas vidas. A formação para a cidadania passa também por aqui.

Gostarmos daquilo que fazemos ajuda-nos na complexidade da problemática da educação.

Não pretendi ser exaustivo, mas tão só fornecer, modestamente, algumas pistas para a reflexão de toda esta temática.