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Editorial

Educar Sempre

A Minha Escola

O A. E. C. Maior

- Crónicas de Aprender -

Aula Bonita

Carta de um Professor

 

Entrevista

Cartoon


 

 

Uma Aula Bonita Entre Muitas…

Américo Agostinho
 

Ao longo de quase quarenta anos de docência, aconteceram muitos e variados episódios, uns alegres, espirituosos, gratificantes, outros tristes, provocantes e desagradáveis. Apelando à memória, escolhi um que deve ter acontecido aí pelos princípios dos anos oitenta, na escola Secundária de São Lourenço, antiga Escola Industrial e Comercial de Portalegre.

Era uma turma de alunos escolhidos no Ciclo Preparatório para testar um programa vindo do Ministério da Educação.

Todos, razoavelmente bons alunos, alguns a destacarem-se para o excelente. Entre eles havia o Victor, invisual, que, sendo muito bom, como aluno e como pessoa, tinha ainda a vantagem de não se distrair facilmente. Com a sua “maquineta” de escrever adaptada, ia sempre tomando nota dos assuntos que lhe interessavam..

Era a disciplina de Português e o conteúdo “Os códigos oral e escrito da Língua, suas caraterísticas e diferenças”… mais ou menos isto. Sei que fiz referência a dois livros que tinha lido naquela altura “O Que Diz Molero”, de Dinis Machado, e “A Noite e o Riso” de Karl Walenstein, obras que utilizavam, predominantemente, o código oral.

Notei que o Victor e mais um ou dois companheiros escreviam mais do que era costume… mas tudo bem.

Na aula seguinte, um aluno da turma, que não o Victor, mas que já não consigo identificar, pediu licença para ler um texto. “Claro que sim!”, respondi.

E começo a ouvir…e logo na primeira frase um ou dois “bordões”…depois uma piada, uma chamada de atenção, etc… Era, nada mais nada menos, que a repetição da aula anterior, quase ipsis verbis. Com alguns sorrisos, meio escondidos a princípio… mas, quando eu dei uma sonora gargalhada, o ambiente ficou mais descontraído e, durante mais de meia hora, todos nos divertimos imenso. Numa aula prática, oportuna e inteligente, foi fácil descobrir as diferenças entre a oralidade e a escrita. Fez-me descobrir, também, alguns “chavões” presentes na minha expressão oral e dos quais não me tinha apercebido.

Pedi o texto, selecionei uma parte, fiz fotocópias e, na aula seguinte, pedi-lhes que fizessem o trabalho contrário: - Passar para o código escrito o código oral!

Foi a minha vingançazinha!