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Vozes da Leitura

Celeste Santos Pinto
Agrupamento de Escolas N.º 1 de Portalegre

Como afirma Jean Hébrard “É necessário que as vozes da leitura se elevem e que haja alguém que as escute. Nas escolas é necessário que se descubram as novas modalidades da leitura, novas abordagens do texto literário.”

Sempre adorei ler, desde que me recordo que me vejo sempre com um livro debaixo do braço, ou então sentada num degrau que havia na papelaria onde o meu pai trabalhava, à espera que a escola abrisse, com um livro da Anita nas mãos, depois os livros do Mickey, do Pateta. Aquelas bandas desenhadas que “devorava” e me encantavam, “As gémeas”, “Os cinco”, “Os sete”. Mais tarde, as fotonovelas, os romances de cordel, para os quais o meu pai não me dava dinheiro nem mos deixava comprar e que eu lia em segredo com minha melhor amiga. E, finalmente, os grandes romances de Eça de Queirós, de Camilo Castelo Branco, de alguns autores estrangeiros, até ao Jorge Amado, com o livro “Teresa Batista cansada da guerra”.

Naquele tempo, a Biblioteca Municipal tinha uma sala quadrada na entrada onde estavam os livros juvenis. Não podíamos passar dali. A minha curiosidade era tanta que sempre que via a D. Hermínia, a funcionária da Biblioteca, distraída, “fugia” para a outra sala. Foi assim que descobri o “Retrato de Ricardina” de Camilo Castelo Branco que queria ler porque ouvia na rádio à hora de almoço, a rádio novela daqueles dias… Ou os “Pássaros feridos” de Colleen McCullough, mas sempre sob o olhar desconfiado da D. Hermínia, reprovando as minhas escolhas, pois só tinha 12 ou 13 anos.

A Biblioteca da Escola também era um lugar que eu gostava de frequentar, mas era um lugar de culto, o culto do livro. Também aí me estavam vedadas muitas obras às quais eu queria ter acesso.

Sentia então respeito, um “medo” de entrar nas bibliotecas porque não podia mexer à vontade, não podia percorrer os livros nas estantes. Não podia folhear as páginas do início para o fim, do fim para o início, cheirar o livro… Não podia escolher o livro… Não podia conhecer os livros que eu queria.

Não sei quem me meteu o bichinho da leitura. Talvez tenha nascido comigo, não sei… Mas sei que as minhas amigas que não tinham esse bichinho também não o ganharam mesmo que frequentassem qualquer uma das Bibliotecas. Porque a Biblioteca só servia para irmos requisitar o livro, levá-lo para casa ou então ir estudar para biblioteca escolar

Não havia atividades que incentivassem, aqueles que não gostavam de ler, a adquirir o prazer de leitura.

Passados 30 anos, entrar na Biblioteca Municipal é para mim um prazer, percorrer os corredores, mexer nos livros, e não só, poder “mexer” em todos os documentos que existem naquele espaço. É algo que dá prazer. Sentar-me num dos sofás e simplesmente descansar a ler uma revista, um jornal, a ver um filme, ouvir uma música.

A Biblioteca escolar é igualmente um espaço agradável. Por vezes não há muito silêncio. Mas sentimos que os alunos gostam deste espaço, se sentem bem aqui, procurando-o muitas vezes.

Continua a haver miúdos que não gostam de ler. Mas cada ano que passa noto que mais livros são requisitados para casa, nem que seja porque tem um “contrato de leitura” na disciplina de português. Mas leem. Leem o documento que precisam no computador. Leem porque ouviram na televisão falar daquele autor que disse algo que chocou algumas pessoas, e querem saber porque ficaram os adultos chocados com algo que um autor falou e correm à biblioteca escolar/municipal a requisitar o livro.

Quando a biblioteca traz um autor à escola, leva-os a ler pelo menos um livro ou a biografia, nem que seja para conhecer melhor aquela pessoa de carne e osso que ali esteve e falou com eles de igual para igual.

A dramatização de um texto e que traz os alunos á biblioteca, incute-lhes o bichinho da leitura, “abre-lhes o apetite” para saber mais sobre quem escreveu o texto ou sobre aquela obra. Quando se fazem exposições sobre autores, quando no início do ano a Biblioteca escolar faz a visita guiada aos alunos, ensinando-os a procurar os documentos, mostrando-lhes como se podem orientar na biblioteca, estamos a formar leitores.

Cabe também aos professores do departamento de línguas criar estratégias juntamente com a Biblioteca que incentivem e promovam a leitura. Convidando autores locais para lerem um livro juntamente com os alunos. Convidando poetas populares, para lerem os seus poemas, incentivando os alunos a darem asas à sua imaginação e construírem também eles os seus poemas.

Nestes casos há também a possibilidade de desenvolver atividades em parceria com Biblioteca Municipal, partilhando recursos e proporcionando melhores serviços aos seus utilizadores.

A biblioteca escolar, em colaboração com os docentes, pode também ou deve “ensinar” o aluno a conhecer, a estudar, a observar o livro. Ensinar-lhe que podemos ler e reler quando não entendemos, que por vezes até podemos “saltar” algumas páginas para que depois possamos voltar atrás e voltar a ler. Ensiná-los a mexer no livro as vezes que sejam necessárias. Mexer até ficar a conhecer algo que não conhecemos.

Por fim, mas não menos importante, envolver também os pais e encarregados de educação, trazê-los à biblioteca escolar em atividades juntamente com os alunos. Dar-lhes a conhecer os livros. Incutir-lhes o bichinho da leitura. Fazer maratonas de leitura entre pais e filhos. Pôr filhos e pais a “discutir” um livro. Beber um chá e comer uma fatia de bolo, lendo excertos de vários livros, para ver qual deles é o mais interessante para nós...

Nestes 30 anos em que deixei de ser aluna e passei a ser Assistente Operacional, muita coisa mudou nas bibliotecas, e sinto-me feliz por ter havido mudanças.

Fico feliz por fazer parte da mudança e continuar a querer que mais e mais crianças se tornem adultos leitores… leitores de livros... leitores de ebooks...!