PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

 

O Plano de Transição Digital (PTD) na Educação

João Lopes
CEFOPNA (Embaixador Digital1 PTDE)

Nas últimas décadas, o fantástico desenvolvimento das novas tecnologias tem afetado todos os sectores da atividade humana. Assiste-se a uma transformação digital, materializada na maior agilidade de comunicação, na facilidade de acesso à informação e, sobretudo, numa sociedade e economia cada vez mais assentes na ciência, no desenvolvimento tecnológico e na inovação. Assim, para corresponder aos requisitos definidos pela transformação digital, foi definido o Plano de Ação para a Transição Digital (Resolução do Conselho de Ministros n.º 30/2020) que, entre outras áreas, prevê o desenvolvimento de um programa para a transformação digital das escolas, alinhando as prioridades digitais nacionais com as políticas e fontes de financiamento da União Europeia.

Este programa visa contribuir ativamente para a modernização tecnológica das escolas, através da integração transversal das tecnologias, com vista à melhoria contínua da qualidade das aprendizagens, proporcionando igualdade de oportunidades no acesso a equipamentos individuais, à Internet e a recursos educativos digitais de qualidade, e o investimento nas competências digitais dos docentes.

A cargo dos Centros de Formação de Associação de Escolas (CFAE), a capacitação digital dos docentes é considerada determinante para o desenvolvimento de modelos pedagógicos inovadores, assumindo-se como o motor de transformação da escola.

Neste sentido, optou-se por uma abordagem inovadora, apostando-se no diagnóstico da proficiência digital dos docentes, para oferecer uma formação ajustada às suas necessidades. Assim, nasce o Plano de Capacitação Digital de Docentes cujo objetivo é alicerçar a integração transversal das tecnologias digitais nas práticas profissionais e pedagógicas dos docentes, nas suas rotinas e procedimentos diários, na vida dos alunos, nas suas práticas de aprendizagem e no exercício de cidadania.

O diagnóstico e a formação a desenvolver seguirá o Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores (DigCompEdu), referencial este que responde à consciencialização de que os docentes necessitam de um conjunto de competências digitais específicas para a sua profissão de modo que permitam aproveitar o potencial das tecnologias digitais para inovar e melhorar a qualidade da educação. O diagnóstico foi realizado com recurso à ferramenta de autorreflexão Check-in que permitiu a cada um dos respondentes ter a perceção do seu nível global de proficiência digital e, deste modo, definir o seu percurso de desenvolvimento profissional.

Em particular, a resposta ao Check-in permitiu identificar o nível de proficiência (de A1 a C2) dos docentes, em cada uma das 6 áreas (Envolvimento Profissional; Recursos Digitais; Ensino e Aprendizagem; Avaliação; Capacitação dos Aprendentes e Promoção da Competência digital dos Aprendentes ) previstas no referencial DigCompEdu.

Os níveis de A1 a C2 traduzem-se em: Recém-chegado (A1) e Explorador (A2), os docentes assimilam novas informações e desenvolvem práticas digitais básicas (Nível 1);Integrador (B1) eEspecialista (B2), os docentes aplicam, ampliam e refletem, sobre as suas práticas digitais (Nível 2); Líder (C1) e Pioneiro (C2), os docentes partilham os seus conhecimentos, criticam as práticas existentes e desenvolvem práticas novas (Nível 3).Por uma questão de operacionalização da formação, os níveis de proficiência digital são agrupados e os docentes são posicionados num nível global de proficiência global (1, 2 ou 3). O nível de proficiência obtido corresponde à Oficina de Formação que cada docente deverá frequentar (como ponto de partida).

Tendo presente os diferentes níveis de competência digital dos docentes, foi equacionada uma formação, na modalidade de Oficina com 50 horas (25h presenciais + 25h de trabalho autónomo), estruturada em 3 níveis de complexidade crescente: Nível 1, Nível 2 e Nível 3. Os conteúdos das oficinas de formação dos Níveis 1 e 2 apresentam uma estrutura semelhante, embora com níveis de desenvolvimento e aprofundamento distintos. O Nível 1 posiciona-se numa perspetiva de exploração e adoção de estratégias de integração significativa do digital em contexto educativo. O Nível 2 assenta na criação de recursos educativos dando primazia à reflexão, partilha e utilização crítica do digital. O Nível 3 assenta em estratégias e metodologias de âmbito científico, didático e pedagógico ligadas ao digital, contribuindo para o desenvolvimento dos Planos de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas. Em cada nível, os conteúdos das ações de formação serão ajustados ao contexto dos grupos de formandos. Para além das Oficinas de Formação previstas no Plano de Capacitação Digital de Docentes, os Planos de Formação dos CFAE´s contemplam outras formações, também no âmbito das tecnologias digitais, que complementam as necessidades formativas dos docentes das escolas associadas.

Considerando que a transformação digital das Escolas pretende contribuir para o desenvolvimento profissional dos docentes, bem como para uma educação inclusiva, de qualidade para todos, é fundamental que cada Escola (AE/ENA) conceba e implemente um Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (PADDE). No sentido de obter uma visão geral da integração e apropriação das tecnologias digitais na Escola, para além dos dados globais recolhidos através da ferramenta check-in, as equipas responsáveis pela conceção e implementação do PADDE deverão auscultar os dirigentes escolares, docentes e alunos, através da ferramenta de diagnóstico Selfie. Essa ferramenta, assente no Quadro Europeu para Organizações Educativas Digitalmente Competentes (DigCompOrg), ajuda as Escolas a compreender, numa perspetiva holistica, como a tecnologia está integrada e é utilizada, e em que medida contribui para os processos de ensino e de aprendizagem. 

Considerando que o PADDE deve ser um instrumento de reflexão e, também, de mudança de práticas nas Escolas, a sua conceção assenta na triangulação entre os diagnóstico obtidos no âmbito da aplicação das ferramentas Check-in e Selfie e, os documentos estruturantes da Escola,  numa perspetiva de desenvolvimento da Escola enquanto ecossistema digital contemplando as dimensões: pedagógica, técnica e organizacional.

A expectativa face à implementação do Plano de Transição Digital, é que se assista a uma transformação focada na aprendizagem e não no ensino, em que as ferramentas digitais tenham um papel facilitador na adoção, em sala de aula, de metodologias ativas, centradas no aluno, que possibilitem maior diferenciação, maior diversificação, maior inclusão, e consequentemente melhores aprendizagens para todos, com autonomia, responsabilidade e sentido crítico.

Reconhecendo que a utilização das tecnologias digitais no ensino, por si só, não é o garante de uma aprendizagem mais eficaz, pressupõe-se que a sua utilização passe pela planificação de atividades que convidem à construção do conhecimento, à experimentação e à resolução de problemas, de forma individual ou em grupo, que procurem relacionar os conhecimentos prévios com os novos conteúdos. As ferramentas digitais poderão facilitar a implementação destas dinâmicas, só possível após reflexão sobre o seu lugar no processo de ensino-avaliação-aprendizagem, bem como sobre o papel que cabe neste processo ao professor e ao aluno. De outra forma, as ferramentas digitais serão apenas um recurso que reforçará as formas tradicionais de ensino.

 Referências bibliográficas eletrónicas

Plano de Ação para a Transição Digital de Portuga.Sumário Executivo, Enquadramento e Definição da Estratégia. (2020). Disponível em https://www.portugal.gov.pt/gc22/portugal-digital/plano-de-acao-para-a-transicao-digital-pdf.aspx

 Apresentação PTD. Sumário das diversas áreas do Plano de Capacitação Digital de Docentes. Disponível em https://erte.dge.mec.pt/sites/default/files/ptd_na_educacao.pdf

 Comissão Europeia. (2018). DigCompOrg: Quadro Europeu de Organizações Digitalmente Competentes. Disponível em https://ec.europa.eu/jrc/en/publication/eur-scientific-and-technical-research-reports/promoting-effective-digital-age-learning-european-framework-digitally-competent-educational 

 Lucas, Margarida & Moreira, António. (2018). DigCompEdu: Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores. Disponível em https://ria.ua.pt/bitstream/10773/24983/1/Lucas_Moreira_2018_DigCompEdu.pdf

 

1 O Embaixador Digital (ED) tem funções de assessoria técnico-pedagógica e colaboração na organização da formação no CFAE, no que ao Digital diz respeito. O ED irá também colaborar na conceção, na implementação, no acompanhamento, na monitorização e na avaliação dos Planos de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (PADDE) e em todo o trabalho de articulação entre cada CFAE, as suas escolas agrupadas e a Direção-Geral da Educação (DGE).