PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

 

 

 

Viver a escola em tempos de pandemia

Custódio Lagartixa
AE Poeta Joaquim Serra - Montijo

Portões das escolas fechados, espaços escolares silenciosos, desertos do ruído entusiasmado dos mais jovens. O que se viveu durante o ano de 2020, não se repetia, em muitos países europeus, desde a Segunda Guerra Mundial. Desta vez o inimigo era invisível, infinitamente pequeno e, por isso, mais assustador: um vírus, o novo Coronavírus.

Há um ano, as proporções mundiais da pandemia eram inimagináveis para a esmagadora maioria da população. Como consequência, pessoas, organizações e Estados tiveram de se adaptar em um curtíssimo espaço de tempo a esta nova realidade. As restrições à mobilidade, as exigências de distanciamento social e o confinamento alteraram profundamente o dia a dia das escolas. Volvido quase um ano qual será o primeiro balanço sobre a forma como as escolas responderam às necessidades educacionais dos seus alunos no contexto da pandemia?

A primeira consideração é que a Escola, desde março de 2020, se mobilizou para responder a esse desafio. Para continuar a garantir a ligação dos alunos à Escola e o contacto dos professores com os alunos, esta recorreu ao ensino a distância (E@D). Os professores arregaçaram as mangas e disseram presente. De sua casa, com recurso aos seus computadores e telemóveis adotaram novas formas de comunicação. Ultrapassaram-se receios, aprofundaram-se conhecimentos, fizeram-se formações sobre a utilização de novas plataformas de E@D. Neste particular, os CFAE, de forma ágil e rápido, tiveram mais uma vez um papel preponderante, assegurando a resposta às necessidades formativas de educadores e professores. Assim, construiu-se uma ideia reiterada que parece confirmar a efetividade desta transformação assente no E@D: no quotidiano desta nova escola passou a ser referida a existência de “um novo normal” assente na comunicação e na aprendizagem que tinham como suporte o email, o Zoom, o Teams, o Meet, o Classroom, entre outras plataformas.

Parece-nos evidente que a continuada crise pandémica acelerou esta mudança caracterizada por uma utilização muito mais frequente das tecnologias que possibilitaram o E@D. Tal, será no futuro um caminho sem regresso, como muitos asseguram, ou, a mudança foi sobretudo uma estratégia adotada para uma emergência?

Provavelmente ainda não será o tempo para responder com serenidade a esta questão. Uma coisa parece certa, numa situação de crise pandémica, com exigência de confinamento, professores e alunos revelaram uma boa capacidade de adaptação e mantiveram o contacto de acordo com os recursos e os meios disponíveis.

No entanto, interrogamo-nos se poderá a E@D ser suficiente para sustentar uma verdadeira relação pedagógica? E se poderá substituir a relação pedagógica que assenta numa dimensão presencial? Permitirá o E@D atingir os objetivos de formação integral dos alunos estabelecidos para a escola?

Parece-nos que não. A adaptação feita por professores e alunos, com recurso à tecnologia, foi a possível. Ela foi necessária para substituir um ensino presencial que deixou de existir ou se apresentava com intermitências, devido à quarentena de alguns alunos ou de turmas.

No entanto, a Escola como a conhecemos é não só um espaço de aprendizagem, mas também de sociabilização e o contato virtual não pode substituir com a mesma eficácia o presencial. Na nossa opinião, a educação a distância é um meio muito útil, mas não pode ser um fim em si mesmo. A sua implementação exige uma transformação de metodologias e de formas de estruturação do processo de ensino e de aprendizagem que, nem sempre, aconteceu devido, entre outras razões, ao pouco tempo disponível para esse efeito.

Neste ano letivo de 2020/2021, a pandemia mantém a intermitência dos seus picos e as escolas, agora de portas abertas, continuam a adaptar-se. Neste processo adaptativo, reorganizaram-se os espaços, desfasaram-se os horários das turmas para se garantir menos alunos em simultâneo nos espaços coletivos da escola. Também se multiplicaram os gestos de higienização e de arejamento dos espaços.

A epidemia acentuou as desigualdades económicas e sociais. E isso também se fez sentir nas escolas. O encerramento destas aumentou o fosso entre aqueles alunos que têm acesso a equipamento informático e a pais que os podem apoiar e os outros, os mais pobres. Aquele aluno que não tem um computador ou um acesso à internet na sua residência, fica mais isolado e com menos condições de aprender. Por isso, muitos alunos durante o confinamento não realizaram as aprendizagens projetadas.

O desafio — para uma escola que se quer inclusiva — surge redobrado neste especial contexto. A oportunidade de flexibilidade curricular, favorecida com a publicação dos decretos-leis n.º 54 e n.º 55/2016, tem sido uma aposta a que as escolas têm recorrido para afirmaram respostas capazes de minorarem a exclusão.  Em sala de aula e fora dela adaptaram-se as práticas pedagógicas, multiplicaram-se os apoios, desenvolveram-se estratégias específicas para recuperar as aprendizagens não realizadas.

Num tempo particularmente exigente, o esforço de adaptação e de resistência de professores, alunos, funcionários e o envolvimento das comunidades escolares tem sido a melhor resposta a esta crise que se afirma como um dos grandes desafios da nossa atual vida coletiva.