PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

 

O Projeto MAIA – rumo à mudança nas práticas avaliativas e classificativas em Portugal

Olga Morouço
Diretora do CFAE LeiriMar, Representante dos Diretores de CFAE da Região Centro

A avaliação pedagógica, não raras vezes e erradamente, confundida com classificação, é uma das temáticas fulcrais e mais suscetíveis do sistema de ensino em Portugal, e todos têm a consciência disso: o Ministério da Educação, os professores, os pais e os alunos.  Apesar de o desafio ser imenso, acredito que a estagnação e a procrastinação de décadas têm os dias contados, pois a implementação do Projeto de Monitorização, Acompanhamento e Investigação em Avaliação Pedagógica (Projeto MAIA) vai ter, certamente, um impacto significativo e positivo na forma de avaliar e classificar nas escolas portuguesas e, consequentemente, traduzir-se na melhoria das aprendizagens.

A necessidade de construir uma estratégia de capacitação de docentes e de apoiar as escolas no domínio da avaliação, numa abrangência nacional, levou o Ministério da Educação a convidar um especialista nesta matéria, o Doutor Domingos Fernandes, para coordenar o Projeto, a cooptar um representante regional dos Centros de Formação de Associação de Escolas (CFAE), as estruturas atuantes no terreno para operacionalizar o Projeto, para, em conjunto com a Direção-Geral da Educação e a ANQEP, constituírem a Equipa Central do Projeto MAIA (EC MAIA).

Integrar a EC MAIA, ao longo de 2019/2020, como representante dos CFAE, constituiu um desafio aliciante, foi como participar no início da construção de um edifício, cujos alicerces assentam na implementação de uma estratégia de conjugação do conhecimento sobre avaliação pedagógica, com a resposta às necessidades organizacionais das escolas. Primeiramente, os CFAE selecionaram os formadores que iriam disseminar a formação dinamizada nos Seminários do Vimeiro; depois, através de uma estratégia de comunicação permanente entre todos os interlocutores, foram enviados memorandos orientadores para os CFAE, foram realizadas reuniões regulares de índole regional com os intervenientes no terreno, foram elaboradas e disponibilizadas “Folhas” para consolidar a base teórica e sugerir atividades práticas de apoio às oficinas de formação implementadas em todo o país. Com a pandemia, houve a necessidade de reformular todas as dinâmicas criadas, mas a coesão da EC com os CFAE e os formadores em ação permitiu concluir as oficinas e a construir os projetos de intervenção das escolas que aderiram ao projeto. Considero que a estratégia de comunicação constante, a construção de uma gestão integrada e participada do Projeto, associadas a uma coordenação consistente foram determinantes para o sucesso do primeiro ano do MAIA.

Por outro lado, a base voluntária da participação das escolas tem sido um dos fatores decisivos. Só com a adesão livre e esclarecida dos docentes e com o apoio inequívoco e galvanizador das estruturas dirigentes das escolas é possível robustecer práticas de mudança consistentes. E, da consciência da imprescindível continuidade da EC, emergiu um desafio diferente para 2020/2021: implementar os projetos de intervenção, reajustá-los e continuar a criar conhecimento, alargando a formação até ao envolvimento de todas as escolas do país. Para tal, foi repensada a constituição da EC, conferindo-lhe uma tonalidade de maior proximidade ao terreno, através do recurso aos representantes para a Autonomia e Flexibilidade Curricular (AFC) colocados nos CFAE, criando redes de cooperação de índole regional, mas articuladas, através da EC do Projeto MAIA.

Aqui chegados, que perspetivas para o futuro do Projeto MAIA? O desafio de representar os CFAE na EC possibilita-me sentir o pulsar do Projeto a cada passo. Já se desvendaram alguns trilhos em matéria de avaliação, mas há ainda uma encruzilhada de dúvidas e inseguranças pela frente. A EC vai, com certeza, no corrente ano letivo, apoiar a consolidação da autonomia do terreno. A arquitetura do edifício continua a ser ajustada: estamos a transitar da fase em que os alicerces do conhecimento impulsionados pela EC se têm que ir cimentando localmente, ao mesmo tempo que se definem as traves mestras da construção. Considero que caberá aos CFAE investir no apoio à mudança de práticas, cujo caminho ainda se prolongará por mais algum tempo.

Efetivamente, apesar de cada vez mais envolvidos numa multiplicidade de Planos, Projetos e áreas de atuação, o papel agregador e galvanizador dos CFAE, e dos respetivos conselhos de diretores, será fundamental para dar continuidade à formação, aos projetos de intervenção que vão sendo construídos, melhorando-os e envolvendo todas as estruturas e docentes das escolas. Por outro lado, as redes de colaboração e partilha que estão em construção poderão constituir-se como outro fator determinante para o sucesso futuro do Projeto MAIA. E termino com a convicção de que desta vez haverá mudança, de que o acrónimo MAIA, ao invés de conotações trágicas, será sinónimo de mudança nas práticas avaliativas e classificativas em Portugal.