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REVISTA
ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
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Dificuldades emocionais na aprendizagem
Sandra Silva |
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As dificuldades na aprendizagem caminham lado a lado com problemas emocionais. São inúmeras as questões emocionais e comportamentais que se manifestam através da dificuldade no desempenho escolar e adquirem forma visível no insucesso escolar. A emoção está na base de toda a aprendizagem. A criança aprende quando o seu interesse é motivado afetiva ou emocionalmente pelos problemas: aprende a falar, porque a mãe fala com ela; aprende a utilizar o lápis, porque vê os adultos a utilizá-lo e, essencialmente, porque estas atividades a emocionam e envolvem diretamente as suas habilidades emocionais. Na grande maioria dos casos não são as limitações a nível cognitivo, mas sim a ausência de um bem-estar emocional que cria a indisponibilidade interior para revelar o desejo de conhecer e o prazer de aprender. O papel das emoções na aprendizagem Em contexto escolar, perante a situação de aprendizagem, algumas crianças deparam-se com o despertar de medos e emoções que as destabilizam. Estas crianças organizaram-se psiquicamente em função das condições de vida em que se deu o seu desenvolvimento, e essa organização pessoal e individual com carências ao nível afetivo, ou fruto da vida fantasmática (fantasias da criança), não é conciliável com o processo de aprendizagem. No processo de aprendizagem é de extrema importância o papel das emoções e dos afetos, uma vez que o aprender está relacionado, entre outras coisas, com o clima emocional em que ocorre a aprendizagem. A qualidade das relações e a clima emocional em que ocorrem as intervenções da aprendizagem são de extrema importância no desenvolvimento das crianças. As emoções são a exteriorização da afetividade e a expressão dos sentimentos. São manifestamente visíveis e é através delas que os pais e educadores podem obter pistas sobre o que está a acontecer com as crianças: a respiração, a agitação, as expressões faciais, o olhar e o sorriso. Com frequência pais, professores e educadores, ficam sem saber o que fazer, perante as dificuldades que por vezes surgem durante o processo de aprendizagem escolar das crianças. Sendo que cada vez mais essas dificuldades surgem em idades muito precoces. Torna-se muito importante que todos os elementos dos contextos (familiar, escolar, social) em que a criança se insere, percecionem e observem as caraterísticas que determinam a forma como a criança se comporta em cada um desses contextos. Principais caraterísticas Para auxiliar na observação e identificação do comportamento adotado pela criança nos seus contextos de vida apresentam-se, seguidamente, algumas das caraterísticas principais das crianças com dificuldades emocionais na aprendizagem:
Os problemas de índole emocional na criança traduzem-se, geralmente, no bloqueio da capacidade de comunicar, imaginar, pensar ou num agir constante que não lhes permite enfrentar as exigências escolares e focar a atenção nas aprendizagens. Estas crianças apresentam potencial intelectual de base para realizar as aprendizagens e mesmo alguma curiosidade pelo que as rodeia, é visível a rejeição do pensar e aprender que se expressa através da instabilidade e agressividade ou numa forte inibição cognitiva e relacional. Com frequência as crianças têm um percurso escolar marcado por insucessos repetidos e com acentuada desvalorização das suas capacidades. João dos Santos (1982) considerava que, por razões de ordem emocional, muitas vezes coincidentes com outras de ordem social, as crianças não conseguem estabelecer uma relação afetiva profunda com as pessoas do seu envolvimento familiar, sobretudo nos primeiros anos de vida, podendo evoluir sem se fixarem o bastante em alguma etapa evolutiva, podendo estabelecer limitações na sua evolução. Nesta linha de pensamento, Emílio Salgueiro (1996) afirma que “em regra há ligações profundas entre as dificuldades nos aprenderes escolares e as dificuldades relacionadas com os aprenderes de vida ou aprenderes fundadores que a criança adquire precocemente” nas dimensões de acolhimento, suporte, contenção, organização e estimulação se tiver uma matriz familiar adequada. Estratégias de intervenção As estratégias de intervenção para apoiar as crianças devem ser implementadas tanto por pais como por educadores/professores. Estas pretendem ir ao encontro dos interesses, saberes e vivências da criança, valorizando e desenvolvendo as suas capacidades, na tentativa de compreender o que está na origem das suas dificuldades. Através da estimulação e da ligação dos saberes, das vivências e das experiências de cada criança, do conhecimento de si próprio e das suas capacidades, pretende-se, essencialmente, a busca do sentido do aprender, aliada à aprendizagem do viver em conjunto. No quadro 1 sugerem-se algumas estratégias para que professores e educadores ajudem a criança a lidar com as dificuldades ao nível das aprendizagens escolares.
Assim, deve procurar-se um envolvimento relacional de segurança que permita a cada criança uma estabilidade emocional que proporcione o gosto pela aprendizagem num contexto que possibilite a liberdade de pensamento. Livros a explorar… Sinto-me...! (2004). EdiCare Porque é que gostas de mim? (2009). EdiCare Moreira, P. (2010). Ser Professor: Competências básicas...3. Porto Editora Para saber mais… Boimare, S. (2001). A Criança e o Medo de Aprender. Climepsi Editores. Martínez, M., García, M., Montoro , J. (2004). Dificuldades de Aprendizagem. Porto Editora. Salgueiro, E. (1996). “Sentir, pensar e aprender”. Análise Psicológica, 1 (XIV), pp. 53-59. Santos, J. (1982). “Ensaios sobre educação - I. A criança quem é?”.Livros Horizonte. Strecht, P. (2008). A minha escola não é esta. Assírio & Alvim. Zurita, A. (2011). Actividades Para o Desenvolvimento da Inteligência Emocional nas Crianças. Arte Plural Edições.
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