PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

As Escadas Rolantes

Filipa Moreira
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Eu não sou professora, mas fui aluna. E lembro-me, como aluna, de momentos eternos… Folheando a Profforma, deu-me vontade de recordar um deles. Cá vai:

Quando andava no ciclo, ou seja na Escola Cristóvão Falcão, em Portalegre, algumas professoras inovadoras e dinâmicas organizaram uma viagem a Estrasburgo. Na época as viagens não eram muito comuns e menos ainda para fora do país. No máximo, e nós já achávamos fantástico, íamos à Serra da Estrela, passávamos imenso frio, chegávamos estafados e felizes… Por tudo isso, a viagem a Estrasburgo, implicando uma passagem por Paris, parecia-nos o máximo da alegria. Convencida a minha mãe, tarefa difícil (não havia inda telemóveis), lá partimos, de madrugada, numa camioneta confortável q.b. Os primeiros dias foram fantásticos mas, ao terceiro, o cansaço já era imenso e tudo nos parecia (a mim parecia) igual e repetitivo.

Em Estrasburgo visitamos o Parlamento Europeu, ainda hoje não sei muito bem para quê, e no regresso Paris aguardava-nos. Aí, a euforia era imensa! Havia escadas rolantes e havia uma querida professora que se recusava a utilizá-las, declarando que tinha medo e se sentia mal. No primeiro momento, todos esperamos que a senhora professora descesse a pé. Demorou bastante…

No segundo momento, quando uma vez mais foi preciso utilizar as ditas escadas, perante a nossa surpresa, dois professores, um de educação física e outra de francês, agarraram a professora medrosa cada um por seu lado e enfiaram-na à força nas escadas mecânicas. Eu devia ter 12 anos, ou talvez 11, mas nunca mais entrei numas escadas rolantes sem me lembrar do olhar de pânico da minha professora… A verdade é que, a partir de então, a mesma professora só queria era andar de metropolitano e descer escadas rolantes.

Hoje, eu já mãe, lembro esta estratégia e penso que, de facto, os professores sabem muito bem o que fazem. Não sei, em termos pedagógicos e didáticos, se esta estratégia pode ser considerada aprovada mas sei, de certeza absoluta, que às vezes é preciso uma força exterior, um empurrãozinho, para sermos capazes de enfrentar medos e vencer obstáculos. Eu, que não sou adepta do hábito português do “coitadinho”, adorei a energia da estratégia utilizada e, posso garantir, foi para mim bem mais significativa, e educativa, do que a vista às instalações do Parlamento Europeu!

Hoje, vivendo noutro país, enfrentando dificuldades bem maiores do que as escadas rolantes, agradeço a alguns professores os empurrões que me deram!