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Editorial

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Conversando com Maria Reína Martin, Delegada Regional da Educação na Região Alentejo

Luísa Moreira
CEFOPNA

Profforma – Nos últimos anos muitas têm sido as mudanças relacionadas com a carreira docente. Em sua opinião, quais as que considera mais valorizarem a profissão docente?

A profissão Docente é uma das mais dignas profissões.

A base de desenvolvimento de uma sociedade passa obrigatoriamente pela Educação. E de todos os agentes do Sistema Educativo, o Professor é a pedra pilar de sustentação do mesmo. Uma sociedade que não reconhece o “valor do Professor”, não pode ser considerada uma sociedade evoluída.

Neste sentido, a medida mais importante que podia e foi tomada, foi devolver a autoridade, com o consequente reconhecimento do valor do Professor dentro da Escola e do Sistema Educativo.

Profforma – Sendo o Alentejo uma das regiões de Portugal com maiores problemas de desenvolvimento, como pensa poder a Escola Pública tornar-se motor de progresso e mudança?

A Escola, no geral e a Escola Pública em particular, assumem um papel fundamental no desenvolvimento da Região Alentejo. Sempre e quando a mesma esteja direccionada para as necessidades da região e aposte nas potencialidades da mesma.

Neste sentido, a construção da rede escolar é determinante para a construção do progresso e da mudança da região.

A oferta formativa, em particular do ensino profissional e vocacional, é uma peça fundamental, sempre que os mesmos respondam às necessidades da Região.

A construção desta rede escolar, balizada por parâmetros nacionais, tem no entanto de ser uma rede construída à escala regional, respeitando e dando resposta às especificidades desta região.

Um território que corresponde a um terço do país, factor a não desprezar, um território de baixa densidade, mas um território de inúmeras potencialidades e recursos, precisa de qualificar os seus recursos humanos, centrando-se nas potencialidades regionais. A articulação com todos os agentes do território é essencial.

O trabalho em rede, construindo parcerias e pontes é fundamental. A visão dos agentes regionais e o seu envolvimento, determinam o sucesso de uma rede formativa capaz de qualificar os recursos humanos da região, contribuindo para o progresso e mudança da mesma.

Neste sentido, o objectivo prioritário que sempre norteou a nossa actuação, nestes 3 anos em que tenho a responsabilidade da Educação a nível regional, tem sido o de construir em parceria uma rede formativa sólida e capaz de responder as necessidades da região, aproveitando as inúmeras potencialidades da mesma.

Uma rede que contribua para qualificar, em função das necessidades, e assim não só fixar estas “populações”, como gerar a capacidade de atrair jovens de outras regiões.

Criar, acarinhar e consolidar escolas de referência no Alentejo, é fundamental e prioritário.

Escolas capazes de atrair no presente e fixar no futuro, em estreita articulação com os agentes económicos, locais e regionais.

Acredito na visão regional, de quem é, vive e está na Região Alentejo, pois são estes que realmente conhecem os instrumentos necessários e capazes de promover o desenvolvimento.

 

Profforma – A desertificação do Alentejo tem-se refletido no encerramento de muitas escolas. Este é um processo que gera descontentamento nas populações. Estará o Ministério da Educação a contribuir para uma ainda mais rápida desertificação desta região do país?

Não. O reordenamento da rede escolar, em particular do 1º ciclo, tem sido gerido com realismo e muita sensibilidade, respeitando as especificidades regionais e locais, promovendo o desenvolvimento e consolidação de pequenos pólos.

Cientes que as escolas de reduzida dimensão, não são viáveis para o sucesso educativo, têm-se assumido uma posição de charneira que consiga conciliar a dimensão razoável de uma Escola, com as realidades geográficas de cada concelho, em particular as distâncias tempo, uma das variáveis fundamentais neste processo de reordenamento da rede escolar.

Em consciência, consideramos que tem sido realizado um trabalho, sempre em parceria e articulação com os agentes locais, que não acentua a desertificação. Basta olhar para o mapa da rede escolar do Alentejo e perceber que se tem tentado construir uma rede em “nuvem”, tentando não construir vazios que acelerem a desertificação.

Profforma – Em sua opinião, quais os maiores desafios que se colocam a um professor que, em 2014, ingressa na carreira docente?

O maior desafio que se coloca a um professor que em 2014 ingressa na carreira, é o mesmo que foi a qualquer um de nós, quando no 1º dia de trabalho se deparou com um grupo de jovens, que olhando, nos nossos olhos, esperava encontrar naquela figura, uma pessoa capaz de lhe despertar o sentimento:

Vale a pena vir à Escola!

Como Professora, este é todos os anos, o meu maior desafio. Conseguir que os meus alunos encontrem em mim, algo que os motive, que os leve todos os dias a ter a sensação de que vale a pena, levantar cedo e entrar no portão da Escola.

Profforma – É frequente ouvirmos dizer que à escola de hoje cabe Educar e não apenas Ensinar. Concorda com a afirmação? Como pode a Escola Pública responder a este desafio?

À Escola, penso que a de todos os tempos, e não só a de hoje, cabe Ensinar, com rigor qualidade e exigência, mas também Educar. E Educar com estes mesmos parâmetros.

Uma Escola ensina com uma “cartilha nacional” e Educa com uma “cartilha local”, construída para as necessidades regionais, locais, do grupo turma e do aluno. Por isso a importância e relevância dos projectos educativos.

O sucesso global de uma Escola e a capacidade ou não, de dar resposta a este desafio está na pertinência do seu projecto educativo e na capacidade de implementar, desmaterializar, o mesmo, tornando-o com suas acções um instrumento chave do processo educativo.

Profforma – A situação económica do país tem, sem dúvida, obrigado a efetuar cortes no que respeita ao financiamento da Educação. Considera que tal facto tem sido, ou poderá ser, fator de constrangimentos ao desenvolvimento da ação da Escola?

As questões financeiras, são importantes. Em linguagem comum, diremos que o “dinheiro”, tem o seu quê de importância. No entanto não é determinante na acção a desenvolver.

A vontade de fazer, essa sim determina o patamar a que queremos chegar. Os constrangimentos conseguem-se vencer sempre que existir vontade para os ultrapassar, na Escola ou em qualquer outro processo da nossa vida.

Profforma – A formação de professores tem sofrido alterações diversas nos últimos anos. Como vê a evolução deste processo?

A formação de Professores é vital para uma Escola de Sucesso. Em 1988, iniciei a minha carreira docente numa Escola da Região Alentejo. Ao longo destes anos a formação de professores tem sofrido grandes alterações. E tem feito um processo de melhoria continua.

Profforma – Como coordenadora da Educação no Alentejo, como encara o trabalho desenvolvido pelos CFAE (centros de Formação e Associação de Escolas)?

Os CFAE da Região Alentejo, têm trabalho feito.

 São uma mais valia no nosso sistema. As respostas dadas têm sido assertivas e profícuas. São elementos que trabalham com e para a Região. Têm o conhecimento “in loco”, e isso faz da diferença.

Permitam-me que só a título de exemplo, particularize com a mais recente actividade desenvolvida pelo Centro de Formação de Professores do Nordeste Alentejano; Formação no âmbito do Projecto – REALCE “Metodologias de Ensino para a aprendizagem de uma língua estrangeira” , realizada no passado fim de semana em Portalegre.

A participação e a avaliação feita pelos nossos congéneres da Extremadura – Espanha, são o testemunho vivo do trabalho de qualidade realizado pelos CFAE da Região Alentejo.

Permitam por isso que diga, muito obrigada por me terem dado a oportunidade de conhecer, trabalhar e aprender, convosco.

 

Profforma – A avaliação do desempenho docente tem gerado polémicas sucessivas. Quais as razões que, em sua opinião, têm justificado o descontentamento de grande parte dos docentes?

A avaliação, no geral e a avaliação docente em particular serão sempre alvos de controvérsia.

Avaliar não é fácil, os modelos implementados terão sempre as suas críticas. No entanto a avaliação é indispensável e tem que se reconhecer o esforço feito e melhoria conseguida, com o presente modelo de avaliação.

Profforma – De forma sucinta, quais considera serem os maiores desafios que se colocam à Escola Pública portuguesa e, em particular, às escolas do Alentejo?

De forma mesmo sucinta atrevo-me a dizer que o maior desafio que se coloca às Escolas do Alentejo, e sobre estas me quero centrar, é a capacidade de se afirmarem como Escolas de uma Região, em que se constrói uma rede, capaz de gerar escala e impor a sua “marca Alentejo” a nível nacional.

É um desafio difícil, mas com a vontade e contributo de todos, acredito que o alcançamos.

Profforma – Além de Delegada Regional de DGEstE, na Região Alentejo, a Drª Maria Reína é professora. Como encara, hoje, a sua profissão e o futuro da mesma?

Delegada Regional da Educação na Região Alentejo, ex- Directora Regional, são, como todos, cargos de passagem. A essência está na minha profissão de docente, que me pertence por direito.

E é com esta visão de Professora, que independentemente da posição relativa do momento, norteio a minha actuação e encaro os desafios do dia a dia.

Como Geógrafa de formação académica, encaro o presente e o futuro da minha profissão, como um “ território, no qual o conhecimento “in loco” e o planeamento das acções, são determinantes para o sucesso ou fracasso “.