PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

 

O Nosso Caminho

Beatriz Carrilho
Agrupamento de escolas N.º 3 de Elvas
Vila Boim - Escola Piloto Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular

INTRODUÇÃO

Partilhar a nossa experiência sobre este primeiro ano de PAFC é falar sobre O Nosso Caminho, os amigos que estiveram ao nosso lado e como todos nos unimos em torno de um projeto.

Sabendo o que o Projeto de Autonomia e Flexibilidade pretendia a articulação das diferentes disciplinas, o trabalho colaborativo entre professores de diferentes níveis de ensino, pais e comunidade, após as jornadas pedagógicas, que se realizaram no nosso agrupamento, em conselho de docentes, voltámos a analisar todos os documentos e, todos juntos, procurámos encontrar a melhor maneira de concretizar o Projeto e efetivar as DAC.

Os alunos envolvidos na concretização do PAFC seriam em primeiro instância a turma de 1º Ano de Vila Boim, englobando as restantes turmas de 1º ano, dispersas pelas diferentes freguesias rurais, através do trabalho colaborativo, visando um estreitamento de relações entre todos os alunos do Agrupamento de Escolas nº 3 de Elvas.

Decidimos que o projeto teria um tema aglutinador: “Um tesouro a descobrir” (Um tesouro porque as crianças são um tesouro e os alunos de 1º ano têm tudo para descobrir …) e, definimos, que teríamos 3 subtemas, 1 por cada período: “Quem sou eu”, “A família e o meio” e “Abrir o tesouro: partilha e amizade”.

A comunicação com a família começou em setembro, na reunião de pais, dando a conhecer o Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular (Princípios, Visão, Valores, mudanças organizacionais), explicando aos pais que a escola mudou, que a escola dos seus filhos é diferente da que foi a sua, que era imperioso que trabalhássemos em conjunto e com o mesmo fim: ajudar a crescer as nossas crianças.

As portas da minha sala abriram-se, a monodocência deu lugar à coadjuvação e ao trabalho partilhado. Tive comigo uma excelente equipa de professores de diferentes níveis de ensino, que nunca tinham trabalhado com crianças tão pequenas, (muitos dos meus alunos tinham 5 anos): os professores de Filosofia, de Educação Física, de Dança, de Música, de Biologia que desenvolveu as Ciências Experimentais, a associação ARKUS, a quem desafiei para desenvolver o Teatro, os pais, os amigos e a comunidade.

 Num ano inicial de ciclo, como o 1º Ano, o acolhimento e a integração dos alunos são fatores imprescindíveis ao sucesso escolar. Assim, delineámos um percurso de descoberta das suas riquezas, dos seus patrimónios pessoais, familiares e relacionais, partindo daquilo que lhe era mais próximo e alargando, progressivamente, o âmbito da sua ação.

 Partindo do Estudo do Meio trabalhámos, no primeiro período, o subtema “Quem sou eu”, articulando com as restantes disciplinas, partilhámos o conhecimento de si próprio, dando-se a conhecer aos outros, aprendendo juntos/trabalhando colaborativamente e despertando o espírito de união na turma.

A viagem, partiu, no segundo período, à descoberta dos outros. O Português, através da história: “Os Três Porquinhos”, constituiu, o ponto de partida para explorar o subtema “A Família e o Meio”, trabalhando transversalmente e de forma articulada os variados conteúdos programáticos das diferentes disciplinas, organizando exposições para partilhar com a comunidade o trabalho que íamos desenvolvendo e participando na Semana Aberta/Semana do Teatro.

Chegados ao terceiro período era extremamente importante, que existisse um momento de partilha, de encontro, de avaliação de um ano de trabalho. Assim, o último Domínio de Autonomia Curricular, teve o subtema: “Abrir o tesouro: Partilha e Amizade”. Partindo da Matemática, em estreita em cooperação com todas as disciplinas, organizámos e preparámos o encontro que reuniu, em Vila Boim, todas as turmas de 1º ano do Agrupamento de Escolas nº 3, dispersos pelas diferentes freguesias rurais, num dia, repleto de atividades: Hora do Conto, Educação Física, Música, Filosofia, Teatro, Cidadania, Artes Visuais, almoço convívio e Dança. Estreitando as relações entre os alunos de 1º Ano, abrimos o tesouro: partilhando vivências, sentimentos, emoções e criando memórias para a vida.

Sendo as relações entre a Escola e a Comunidade fundamentais, estabeleci parcerias com várias empresas, que aceitaram o nosso convite, colaboraram e estiveram presentes, interagindo com as crianças e transformando este dia numa experiência mais rica para todos.

Os Domínios de Autonomia Curricular foram documentos abertos, que cresceram e se desenvolveram, ultrapassando o que tinha sido inicialmente definido e planificado, respondendo às novas propostas dos alunos, aos seus interesses e sugestões, ao seu entusiasmo e vontade de chegar mais além. Assim, para além das DAC inicialmente estabelecidas, muitas outras surgiram e não posso deixar de referir as DAC que procuraram estreitar, desde logo, o espírito de união/cooperação entre a família, a comunidade e a escola:

  • “Escrever a meias com a Mãe e o Pai

Este projeto começou no Dia da Mulher, continuou com o Dia do Pai, Dia da Mãe e culminou no Dia da Criança, articulando as diferentes áreas e colocando crianças, pais e mães a pensar juntos, a ponderar e a escrever, lado a lado, apresentando, os alunos, com orgulho, os trabalhos e organizando exposições de todas as temáticas.

Sabemos que é essencial que as nossas crianças tenham opinião sobre os assuntos, saibam ser críticos, apresentem os seus pontos de vista, oiçam e respeitem os outros e a sua perspetiva. Sem dúvida que, este foi um processo extremamente enriquecedor de aprendizagem, que fortaleceu a autoestima, estimulou a aquisição de valores e desenvolveu competências. Mas, mais importante ainda: aproximou os pais dos filhos, foram mais horas de qualidade que passaram juntos, aproximou os pais da escola e todos ficaram mais ricos com essa transversalidade.

  • “Maio, mês das profissões: as profissões dos nossos pais”

Este projeto nasceu após a exploração da história “Os Três Porquinhos”, na 2ª DAC, quando as crianças sugeriram trazer os pais à escola para falarem sobre as suas profissões, o que eles prontamente aceitaram, demonstrando, uma vez mais, o seu envolvimento e a sua colaboração. O carinho, a admiração, o orgulho e a alegria dos filhos, em tê-los na sua sala, ajudou os pais a superarem o nervosismo inicial. Por outro lado, ter os pais na escola, sentados ao seu lado, a conhecer os seus amigos, e a partilhar a sua vida serão certamente memórias que as crianças jamais esquecerão.

Abrir as portas da nossa sala à cooperação e ao envolvimento dos pais é de extrema importância para que as crianças percebam que os pais participam na dinâmica da sala, se interessam, valorizam a escola e o que eles fazem e, estão presentes na sua vida diariamente. Este projeto permitiu que as crianças distinguissem o papel social dos pais na família e na vida profissional, que observassem que as pessoas adultas trabalham com responsabilidades diferentes, ampliando o seu conhecimento em relação à diversidade de profissões existentes, estimulando, simultaneamente, atitudes de respeito para com as pessoas nas suas diferentes funções. Pretendeu, também, colocá-las a pensar sobre o que elas gostariam de ser quando forem grandes, despertando, desde cedo, a sua curiosidade vocacional.

Não posso deixar de realçar também a DAC que envolveu os meus alunos mais velhos, que estavam no 5º Ano, e que diariamente vêm à minha sala, partilhar, conhecer e ajudar os mais novos:

  • “Uma história com os amigos”

Adquirido o mecanismo da leitura e escrita, procurei incentivar o gosto pelos livros e pela leitura. Para isso, falei com os meus alunos mais velhos, pedi-lhes que falassem com os pais, e lancei-lhes um desafio “Uma história com os amigos”: virem à nossa sala, a pares, contar uma história e desenvolverem atividades sobre ela. Entusiasmados prontificaram-se logo em vir e os mais novos ficaram encantados com a ideia de estarem mais tempo com os amigos, aguardando sempre com grande expectativa o que os mais velhos tinham preparado para eles. Trabalhando colaborativamente iniciou-se a viagem pelos livros…

Criar e consolidar hábitos de leitura nos mais novos e elevar os índices de literacia dos mais velhos é o grande objetivo deste projeto. Abrir a porta dos livros aos amigos mais novos, ajudando-os a crescer e aplicando o nosso lema: “TODOS JUNTOS SOMOS MAIS FORTES”.

Outro dos momentos altos do nosso primeiro ano de PAFC foi a exposição: “Escola com Autonomia na Flexibilização Curricular As Nossas Práticas” que organizámos na casa da cultura de Elvas, dando a conhecer a toda a comunidade o nosso caminho e o trabalho   desenvolvido, contando com a participação e divulgação através de diferentes meios de comunicação social.

Estabeleci, ao longo de todo o ano, uma comunicação permanentemente com os pais e as famílias, solicitei a sua cooperação em todos os projetos que fomos desenvolvendo, fazendo uma avaliação dos progressos alcançados, trabalhando em parceria para resolver preocupações, agradecendo a sua disponibilidade e valorizando sempre o seu envolvimento, o qual voltou a estar bem patente na festa de final de ano: mais um momento de convívio e aprofundando do relacionamento entre a Família e a Escola, partilhando o trabalho desenvolvido com a comunidade, onde, todos tiveram um papel ativo e interveniente, participando de forma interessada e empenhada, contribuindo conjuntamente com a escola para a formação integral das crianças.

Tenho um imenso orgulho nos meus alunos! Tão pequeninos, foram extremamente flexíveis e adaptaram-se a tantos professores que entraram nas suas vidas, a tantas solicitações, participando empenhadamente nas atividades propostas.

O ano voou, lutando continuamente contra o tempo, (o nosso lobo, como diziam os meus alunos).  O PACF para além de abrir os horizontes às crianças, criou sinergias entre os diferentes atores sociais, estreitando e aprofundando o relacionamento entre professores de diferentes níveis de ensino, entre a escola e a comunidade, ente pais e filhos, entre a família e a escola, funcionando estas parcerias como aglutinadoras e extremamente enriquecedoras, criando e promovendo juntos uma mudança de mentalidades: abrir as portas da escola, da sala, trabalhando em parceria, empreendendo ações conjuntas em prole de resultados comuns, contribuindo para a melhoria das aprendizagens e para a promoção do sucesso educativo, com vista a atingir o Perfil dos Alunos.

Este foi o nosso caminho. Não foi melhor nem pior do que tantos outros que foram sendo construídos neste primeiro ano de PAFC. Foi o nosso. Temos muito que aprender? Sem dúvida! Errámos? Muitas vezes!  

É importante é termos consciência de que temos muito que aprender todos juntos, que não existem disciplinas, níveis de ensino nem professores melhores uns do que outros, que é da diversidade, do trabalho colaborativo, da partilha e da junção do que cada um pode e tem de bom para oferecer que este caminho deve ser feito, educando para os valores, promovendo o desenvolvimento integrado de competências, capacidades e atitudes, estimulando sempre as nossas crianças, reforçando, incentivando e acreditando sempre que cada dia será melhor.

O PAFC vem incentivar a mudança: abrir a escola à comunidade, criando uma “nova construção social de aprendizagem, que estimule o paradigma da comunicação”, contribuindo e partilhando, todos juntos, a corresponsabilização na formação das nossas crianças, para que sejam “mais criativas, solidárias e felizes, integradas na vida, capazes de se relacionar e agir sobre o mundo”.