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Editorial

Educar Sempre

A Minha Escola

Crónicas de Aprender

- Entrevista -

 

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Conversando com Miguel Sousa Tavares, jornalista

Luísa Moreira
CEFOPNA

PROFFORMA – Quais considera serem, hoje, os três principais problemas da educação em Portugal?

MST -- Primeiro que tudo e a benefício dos leitores e do que segue: eu não sou, nem especialista, nem conhecedor, nem seguidor atento dos problemas da educação. Portanto, o que a seguir responderei resulta apenas de intuição pessoal, não fundamentada. Mas, se me pede para elencar os três principais problemas da educação em Portugal actualmente, eu arriscaria estes: uma avaliação dos alunos pouco exigente e pouco fundamentada no mérito, na imaginação e no talento; uma inexistente avaliação dos professores em função dos resultados, sem a consequente recompensa pelo mérito de cada um - a grande luta e a grande vitória da Fenprof; e um ensino, eternamente experimental, que nem valoriza o que de bom tinha a escola "clássica" (a memória, a iniciativa e o esforço individual, a cultura geral), nem acompanha a necessidade de uma educação para o desempenho na vida real. 

PROFFORMA – Frequentemente se opõe a Escola Pública à escola Privada. Como vê as duas realidades?

MST - Eu frequentei as duas e preferi a escola pública. E os meus filhos frequentaram a escola pública, por opção minha. Mas, quando vi a professora de inglês do liceu da minha filha declarar, na primeira aula do ano, que ia meter baixa vários meses porque não gostava do horário que lhe tinham atribuído, fiquei chocado e arrependido.

PROFFORMA – Estudos internacionais colocam os jovens portugueses nos piores lugares quando em causa está a interpretação do texto escrito e oral. Como interpreta este facto?

MST- Maus professores.

PROFFORMA – Recentes políticas educativas, sobretudo desde o governo de José Sócrates, vieram colocar as novas tecnologias, e a aprendizagem do inglês, em destaque nos curricula desde o 1º ciclo. Como analisa esta medida em termos de eficácia nas aprendizagens?

MST- Foi uma das coisas em que José Sócrates teve absoluta razão. A facilidade na aprendizagem das línguas e das novas tecnologias é uma característica inata dos portugueses, uma das vantagens que encontram depois lá fora e uma das coisas que fazem com que os jovens portugueses sejam altamente considerados no mercado de trabalho internacional.

PROFFORMA – É conhecida a sua opinião crítica em relação aos professores. O que falha? A formação inicial, a formação contínua, a avaliação de desempenho? Ou será, apenas, uma questão conjuntural em nada diferente do que se passa na generalidade da sociedade portuguesa?

MST- Eu não tenho - ao contrário do que, malévola e desonestamente me é atribuído - nenhuma opinião particularmente depreciativa sobre os professores. Acho que, como em todas as outras profissões, há os bons e os maus. Simplesmente, não entendo e não aceito - nos professores e em todos os outros profissionais - a recusa de uma avaliação profissional fundada no mérito. Sempre que isso acontece, eu já sei que o objectivo é proteger os medíocres, nivelando-os com os competentes. 

PROFFORMA – Em Portugal assistiu-se, há alguns anos, a um boom de Universidades e Institutos Politécnicos espalhados por todo o país. Em sua opinião, foi um processo onde vingou a qualidade ou a quantidade?

MST- Vingou o negócio. Qualidade, raramente.

PROFFORMA – Como sabe, a carga lectiva dos alunos portugueses, sobretudo nos segundo e terceiro ciclos, tem oito disciplinas e horários de sete e oito horas diárias. Será eficaz esta organização de saberes?

MST- Olhe, não sei nada disso. A única coisa que lhe posso dizer é que, comparado com o meu tempo, os alunos do segundo e terceiro ciclo (e os que entram para as Universidades) são absolutamente ignorantes. Agora, se o problema é da carga horária, dos programas, dos professores ou do facebook, não sei. Sei que me faz impressão tamanha ignorância e desinteresse. Se um aluno do terceiro ciclo não é capaz de saber, de compreender ou de explicar a importância da viagem do Fernão de Magalhães, por exemplo (e nem sequer sabe quem foi), eu acho preocupante. Mas, quanto à razão, os especialistas que respondam.

PROFFORMA – São conhecidas, e reconhecidas, as assimetrias em Portugal entre o litoral e o interior. Como encara, nesta realidade, os rankings assentes nos resultados da avaliação externa que o Ministério da Educação anualmente publica?

MST- Acho que a existência dos rankings (longamente reclamada por pessoas qualificadas, como o António Barreto), foi e é importante, para aqueles, como eu, que acreditam que é fundamental - na educação, como no resto - que existam avaliações e consequências profissionais fundadas no mérito e nos resultados concretos. Mas é evidente que essa avaliação tem de ser corrigida por factores como a interioridade, o meio social e cultural, ect. Sem esquecer, porém, que isso não é um critério de correcção inelutável: ainda há poucos anos atrás, a escola C+S de Mértola foi considerada uma das melhores da Europa. Ou seja: a desigualdade de condições à partida é um factor de discriminação que o poder politico não pode deixar de considerar; mas não é uma desculpa para tudo nem uma justificação para o fracasso. Tudo ponderado, acho que os rankings trouxeram mais vantagens do que injustiças.

PROFFORMA – Conhece, com certeza, a existência e desempenho dos CFAE’s (Centros de Formação e Associação de Escolas). Como analisa o seu contributo para o sucesso educativo?

MST- Não sei o que sejam.

PROFFORMA – É conhecida a sua opinião no que diz respeito ao Acordo Ortográfico. Como analisa o facto de, neste momento, existirem duas grafias e os alunos aprenderem nesta situação?

MST- É uma tragédia, um crime contra a identidade nacional. E um facto consumado por demissão e inércia do poder politico e dos que têm responsabilidades de decisão. A língua que herdámos desde há séculos e que construíu a matriz portuguesa no mundo foi traída e vendida por uma dúzia de catedráticos iletrados e politicos sem dimensão de estadistas. E agora temos três grafias diferentes da língua portuguesa e duas gerações contemporâneas de portugueses escrevendo de maneiras diferentes.

PROFFORMA – Se acontecesse, uma hipótese académica, ser Ministro da Educação, quais as três primeiras medidas que implementaria?

MST- Um: demitir-me; dois: abolir o AO do ensino; três: mudar de alto a baixo os programas do ensino complementar e secundário, sobretudo não deixando que fossem professores a fazê-lo, mas sim pais, empresários, escritores, matemáticos, cientistas, arquitectos, engenheiros, diplomatas.