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Humanizemos o Homem através dos Ideais Republicanos
José Barreiros Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Ninguém pode servir a dois senhores, (…). Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam, mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles. » Sermão da Montanha
A dimensão gregária do homem tem implicações diversas: desejo pelo convívio, apologia da solidariedade, celebração de eventos festivos ou lúdicos, respeito pelas leis e valorização da cooperação no contexto familiar ou social. Isto significa que qualquer cidadão mantém relações interpessoais com conhecidos, desconhecidos e, em certas situações, mesmo com indivíduos estrangeiros. Para que haja respeito e confiança, qualquer pessoa, ao ter uma sólida educação cívica, estará apta a observar os preceitos de uma sociedade democrática, aberta e tolerante, impedindo que se encontre no seu seio comportamentos tribais – nós e os outros; o norte contra o sul ou ricos contra os pobres.
Visando impedir abusos ou violências, uma sociedade deverá reger-se por leis universais, impedindo que haja discriminações ou privilégios que ponham em causa a mobilidade social de um indivíduo ou as liberdades cívicas das pessoas. Aliás, ninguém é livre se não tiver poder económico para satisfazer as condições básicas da sua existência – conviver, almoçar com os seus amigos, viajar ou enriquecer-se culturalmente nos seguintes contextos: gastronomia, teatro, ópera, café filosófico, cinema, tertúlias literárias, musicais ou políticas, … .
Observando o nosso país durante os últimos anos, vemos que as pessoas, revelando alguma agitação social e diversas incertezas quanto ao futuro, procuram refugiar-se nos valores que sejam transversais à sociedade e comuns à maioria dos cidadãos – liberdade, dignidade, trabalho e solidariedade. Em princípio, o conceito REPÚBLICA, na sua tradução e aplicação política, deveria responder às expectativas existenciais de qualquer indivíduo num contexto de uma sociedade harmoniosa e defensora dos direitos humanos. Aliás, a noção filosófica e empírica, que se tem deste tipo de regime, coadjuvado pelas suas próprias instituições, designa um estado legitimamente soberano, o qual, pelas suas características, não se confunde totalmente com outros sistemas de governação – monarquia, oligarquia, tirania, império ou protetorado.
Nos dias de hoje, esta perspetiva binária da sociedade moderna, privado/público, está extremamente enfraquecida e encontra-se em perigo através de diversos modos de expressão ou de representação onde prevalece o individualismo extremado e predomínio eufórico do poder financeiro. Esta fronteira política, que deveria ser facilmente percetível a qualquer cidadão, tende a ser invisível, cinzenta ou mesmo a desaparecer, dando azo a que qualquer cidadão pense que só existe um poder único e válido – aquele que é a face da vontade financeira atinente ao pensamento neoliberal, o qual, no âmbito dos países do sul, tem promovido a regressão salarial, atenuando as liberdades coletivas ou individuais. Hoje, este fator ideológico, ao transformar-se num pensamento único, poderá ser deveras preocupante, já que atenua a já fraquíssima visibilidade dos valores republicanos, tornando-os sonâmbulos, trazendo-nos à memória Fenando Pessoa, quando dizia que «Morrer é só não ser visto».
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