PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

Conversando com José Vítor Pedroso, Diretor-Geral da DGE

Luísa Moreira
CEFOPNA

1. Profforma – A escola de hoje parece prosseguir, na forma, um modelo que remonta ao século XIX: Será esse um fator que propicia o insucesso escolar?

É impossível atribuir o insucesso escolar a um fator único. Resultado das alterações profundas e rápidas que ocorrem na sociedade, o modelo de escola que temos está em clara mudança e o sucesso escolar irá, naturalmente, depender da articulação de diversos fatores, entre eles a qualidade do desempenho dos professores, dos alunos e da articulação da comunidade educativa, especialmente dos encarregados de educação.

2. Profforma – Os professores portugueses são, frequentemente, acusados de comodismo e pouco empenhamento pela sociedade dita civil. Como encara esta situação?

Creio firmemente que essa acusação não corresponde em nada à verdade. Todos os dias tomamos conhecimento de excelentes práticas protagonizadas pelos nossos professores que se empenham imenso em prol do sucesso das aprendizagens dos alunos. Infelizmente, temos dificuldade em ver essas boas práticas conhecidas e divulgadas pelos media daí o desconhecimento por parte da sociedade civil.

Esforçamo-nos na DGE para dar a conhecer essas boas práticas, mas é um esforço que tem de ser de todos, inclusive dos Centro de Formação de Professores

3. Profforma – Sendo o objetivo da Escola proporcionar, acima de tudo, o sucesso de todos os alunos, quais seriam os três vetores que consideraria cruciais para alcançar esse sucesso?

É sempre difícil definir “os três mais” pois, em cada escola, haverá particularidades que tornarão esta ordenação sem sentido, contudo, para responder à questão, diria:

- Professores e lideranças motivadas, trabalhando em equipa;

- Encarregados de educação em estreita colaboração com a escola;

- Medidas preventivas de apoio pedagógico aos alunos em risco de insucesso;

4. Profforma – Na Escola, a sala de aula é o núcleo de construção das aprendizagens. Considera que, de forma geral, a dinâmica de sala de aula em Portugal é geradora do sucesso desejado?

Numa sala de aula “tradicional” podem decorrer processos de ensino e de aprendizagem muito inovadores e de elevada qualidade. A inovação pedagógica nas nossas escolas é contínua e não está dependente de salas de aula com características especiais. No entanto, a evolução tecnológica da última década trouxe-nos novas ferramentas que vieram facilitar o envolvimento ativo dos alunos em tarefas exigentes do ponto de vista cognitivo e social, como a pesquisa, a síntese, a produção e a apresentação de conteúdos de qualidade.

Os "Ambientes Educativos Inovadores”, que têm surgido um pouco por todo o país, pretendem constituir-se como espaços de inovação, para professores e alunos, propícios à utilização de metodologias ativas de ensino e de aprendizagem.

À medida que as escolas vão desenvolvendo e implementando estratégias de combate ao insucesso e ao abandono escolar, é comum confrontarem-se com as limitações impostas pela organização tradicional sala de aula e pelo tipo de recursos que habitualmente são nelas disponibilizados, procurando encontrar soluções para estes constrangimentos.

É por isso natural que no futuro se procurem encontrar ambientes educativos, apresentando configurações variadas e adequadas às caraterísticas, necessidades dos alunos e de acordo com os recursos disponíveis.

5. Profforma – Consideremos, agora, o processo de ensino e aprendizagem. Sendo um processo com dois polos, quais as principais alterações que considera necessário introduzir em cada um deles?

Os processos de ensino e aprendizagem deverão ser, cada vez mais, centrados no aluno e colaborativos; deverão estar assentes em cenários de aprendizagem inovadores nos quais as novas tecnologias sejam colocadas ao serviço da melhoria dos processos e dos resultados. O ensino não será maioritariamente expositivo mas, pelo contrário, motor do percurso individual do aluno, e de acordo com as suas necessidades específicas.

6. Profforma – Como encara a reorganização da estrutura da escola: assente em grupos de dinâmicas de aprendizagem ou em grupos etários mais ou menos homogéneos (como as turmas atuais)?

A reorganização da escola e do próprio processo de ensino e aprendizagem pode, e deve, estar assente numa lógica de grupos de dinâmicas de aprendizagem ainda que se mantenha a organização em turmas homogéneas no que respeita à idade dos alunos. Isso significa que está a ser realizada diferenciação pedagógica e que se conseguem respeitar as necessidades individuais dos alunos. Progressivamente iremos assistir à transformação da escola da era “industrial” para a escola do ”Século XXI”

7. Profforma – Diz-se, por vezes, que “o que não é proibido é permitido”. Será assim se a Escola se quiser organizar rumo ao sucesso, tendo em vista uma perspetiva autonómica da gestão dos territórios educativos?

O que é, como refere, “permitido” ou “proibido” está previsto na lei. A gestão autónoma dos territórios educativos pressupõe que cada um deles esteja ciente das suas necessidades, o que pode significar que o que é permitido a uns (ou pertinente, diríamos) não o será para todos. Caberá ainda às escola que pretendam desenvolver modelos inovadores proporem à tutela experiências piloto, criando modelos alternativos de funcionamento. A Direção-Geral da Educação está disponível para analisar, acompanhar e monitorizar estas experiências.

8. Profforma – Ao longo dos últimos anos, o Ministério da Educação desenvolveu várias estratégias que visavam promover o sucesso como, por exemplo, os TEIP, o projeto Fénix, O Projeto Turma+. No entanto, nem todas as escolas, ou agrupamento de escola, tiveram oportunidade de usufruir das potencialidades e discriminação positiva dos mesmos. Como será possível, agora, disseminar e rentabilizar essas práticas de sucesso comprovado em todas as escolas do país?

Todas as escolas têm que se transformar em escolas de sucesso, em que o abandono escolar e a retenção dos alunos sejam residuais. Depois de, nos anos 80, termos vencido a batalha da quantidade, com a democratização do ensino, devemos agora concentrarmo-nos na qualidade. Cabe a cada comunidade educativa, e não apenas à escola e aos professores, definir os caminhos para este sucesso, conhecendo os projetos que já deram provas no terreno, mas tendo sempre consciência de  que é necessária uma intervenção sistémica, trabalhando os vários fatores que prejudicam este sucesso, estejam eles dentro ou fora da escola.

9. Profforma – E qual o papel das lideranças, de topo e intermédias, neste processo de mudança?

Sobretudo num processo de mudança, como em qualquer outro, o papel das lideranças é fundamental, pois são esses líderes, de topo ou de nível intermédio, que melhor poderão orientar e mobilizar todos os intervenientes no processo educativo. Precisamos de líderes que, de uma forma democrática, assumam as escolhas que melhor se adequem -às necessidades de cada comunidade. Aos líderes cabe conhecer, orientar, propor, acompanhar, monitorizar e avaliar.

10. Profforma – Considera que a mudança na escola, especialmente a que incide na dinâmica de sala de aula, pode acontecer dissociada do processo de formação contínua de docentes?

Têm vindo a ser desenvolvidos diversos projetos-piloto de utilização de novas metodologias em sala de aula e todos eles apontam para que o elemento humano é fundamental para o seu sucesso, pelo que entendemos que momentos de formação contínua, acompanhamento e partilha de experiências são fundamentais para o sucesso. É fundamental que o trabalho em equipa seja uma prática comum entre os professores. 

11. Profforma – Qual o papel dos CFAE neste processo de formação para a mudança?

OS CFAE devem constituir-se como motores desta mudança, estando atentos às necessidades das escolas e dos seus atores para poderem liderar o processo de mudança. Devem questionar, avaliar, propor novos modelos, novos conteúdos que ajudem a preparar as escolas para o sucesso que todos desejamos

12. Profforma – No mundo digital que integramos, o recurso e o domínio das TIC é uma competência cada vez mais indispensável. Assim, como encara o futuro apetrechamento da sala de aula na Escola Pública portuguesa?

Uma utilização significativa dos meios tecnológicos colocados à disposição das escolas implica uma série de pressupostos. É importante estarem assegurados os elementos infraestruturais, como a largura de banda disponível nas salas de aula e a manutenção e atualização do hardware e do software. É necessária ainda a formação dos docentes para que utilizem metodologias que potenciem as mais-valias proporcionadas por estas tecnologias na resolução dos diferentes desafios que estão associados a cada comunidade educativa.

Os números sobre o envolvimento de docentes e alunos nas iniciativas que a DGE tem levado a cabo nesta área, nomeadamente no âmbito de projetos de colaboração, como o eTwinning, são indicadores já de níveis significativos de utilização das tecnologias nas Escolas portuguesas. Contudo não nos devem satisfazer e devemos continuar a investir nesta área.