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- Entrevista -

 

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Conversando com o Ministro da Educação o Professor Doutor Nuno Crato

Luísa Abreu e Silva
CEFOPNA

A iniciar um novo ano letivo, a PROFFORMA entendeu ser oportuno saber a opinião do Ministro da Tutela, Professor Doutor Nuno Crato.

Nuno Crato é Professor de Matemática e Estatística do ISEG, onde se licenciou em Economia. Crato doutorou-se em Matemática Aplicada nos Estados Unidos tendo trabalhado por lá, alguns anos, como investigador e professor universitário O atual Ministro foi, sempre, um crítico das políticas educativas dos seus antecessores tendo, inclusivamente, publicado a obra  O Eduquês, que a classe docente bem conhece.

1. Acreditamos que o processo educativo não se sustenta em medidas avulsas determinadas por emergências contextualizadas! Para onde é que o Ministro da Educação quer ir, no que se refere ao Ensino Básico e Secundário no seu papel estruturante e formativo do individuo e do cidadão?

Queremos escolas mais autónomas, menos burocráticas, que sejam espaços de intervenção social onde se conta com a comunidade e com as famílias. E queremos professores preparados para formar com base em parâmetros de excelência.

2. Ao longo dos últimos anos, de acordo com alguns pensadores, parece que temos vindo a assistir a uma clara desresponsabilização dos alunos (e até dos pais) no seu próprio processo de ensino e aprendizagem. Como encara este facto e que consequências acha que ele determina para o papel das escolas em geral e dos professores em particular?

É preciso promover a disciplina nas escolas e o respeito pelos professores. Temos de passar uma mensagem clara aos alunos de que o desrespeito não será tolerado. Para alcançarmos este objectivo, devemos contar com o apoio de todos os agentes envolvidos na escola: os professores, os alunos, os pais e a comunidade em que está inserida.

3. Falemos agora um pouco sobre a Formação Contínua de professores. Qual acha que deve ser o papel desempenhado pela Formação Contínua no processo de avaliação e progressão profissional dos docentes e em que medida deve ser regulada (ou não) pelo ME?

A qualidade e o rigor da formação do professor são uma das grandes bandeiras deste mandato, não só em relação à formação contínua como à avaliação da formação para entrada na carreira. Este é um aspecto que já está na lei e que vai ser regulamentado.

4. Sem desligar da questão anterior, existem outros profissionais nas escolas para além dos docentes e que são determinantes para o processo educativo. Como encara a Formação Contínua do pessoal não docente, técnico e administrativo?

A escola é um sistema único em que todos os intervenientes desempenham um papel fundamental. Neste sentido, o pessoal não-docente tem também contribuído para o bom funcionamento dos estabelecimentos de ensino, e deve ter a formação adequada ao desempenho das suas funções.

5. O Alentejo, quando encaramos os resultados dos exames nacionais, é a região com piores resultados no ranking nacional. Não considerando que a nossa posição geográfica, ou qualquer condicionante climatérica, possam fazer com que os alunos do interior, tal como os professores, sejam menos capazes e válidos, como encara este facto e que razões, no seu entender, determinam este estado das coisas?

Tal como acontece noutros países, há em Portugal algumas questões que afectam não só a região do Alentejo mas muito do interior, e que levarão muitos anos a resolver. Mas não podemos desistir dos alunos com menos recursos ou menos bem preparados. É exigindo mais desses alunos que lhes vamos proporcionar um melhor futuro e mais igualdade de oportunidades.

6.  Na sequência da pergunta anterior, tendo em conta as distâncias no Alentejo, tendo em conta a desertificação progressiva desde há décadas, a falta de massa crítica, o envelhecimento e abandono das aldeias e vilas do interior, o encerramento de serviços e sobretudo de escolas, em que medida a Educação pode constituir-se como um factor que contrarie esta “fatalidade” alentejana?

O encerramento de escolas tem decorrido em acordo com as autarquias e com grande sucesso. A importância desta medida vai muito além da questão económica, trata-se de facto de uma opção que pedagogicamente faz sentido. Para além das melhores condições existentes nos novos centros escolares, os alunos passam a estar em turmas em que todos os colegas estão no mesmo ano de escolaridade e os professores deixam de estar isolados e passam a trabalhar em conjunto com outros docentes. A qualidade do ensino torna-se assim mais alta, o que contribui a prazo, por exemplo, para criar o auto-emprego que muitas vezes acaba por fixar as pessoas no interior.

7. A terminar, como concluiria a frase de Martin Luther King “Eu tenho um sonho…”

…Que a nossa escola promova o conhecimento e a exigência como veículo da promoção de igualdade de oportunidades para os nossos filhos.

8. Quais seriam as três recomendações/sugestões que faria a um amigo pessoal que, hoje, optasse pela profissão de professor?

Que deveria, mais do que nunca, estar disposto a sacrifícios pessoais a favor da profissão, tendo em conta o contexto em que vivemos; que honrasse esta profissão, que tem um papel tão crucial para a saúde futura do nosso tecido social; e que não tivesse medo de exigir o máximo de si e dos seus alunos.