PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

T. P. C. e Imaginação

Maria Luísa Moreira
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Os T.P.C. são, talvez desde sempre, uma dor de cabeça para alunos, professores e pais. Os primeiros acham-nos imprescindíveis, os segundos desnecessários, e os terceiros uma obrigação a juntar a muitas outras… Sendo professora há já 32 anos, confesso que já pedi muitos trabalhos de casa. Agora, normalmente, não proponho tal coisa. Não por estar segura da ineficácia dos mesmos, mas por considerar que os alunos já estão tempo demais a estudar, ou fechados nas salas, e também precisam de tempo para as coisas deles. Mas, quando era mais jovem, pensava – pensava e penso tantas coisas esquisitas… - que era importante que os alunos, em casa, olhassem para os conteúdos trabalhados para os consolidar. Assim, era costume pedir que escrevessem um texto, ou que respondessem a algumas perguntas, como T.P.C.

Obviamente, em mais de trinta anos de profissão, trabalhei com muitíssimos tipos de alunos. Uns cumpriam, normalmente, o que eu dizia; outros raramente o faziam; outros, ainda, estendiam à família a possibilidade de desenvolverem competências no português, pedindo a alguém que cumprisse o T.P.C. Li textos de mães muito interessantes, sobretudo revelando uma maturidade surpreendente em jovens de 13 ou 14 anos…

Mas toda esta memória me leva a uma situação que nunca esquecerei. Tinha, então, uma turma de alunos de 9º ano, português. Era um grupo muito desafiante, catalogado como desinteressado mas, efetivamente, interessado em vertentes que não eram contempladas nos diferentes programas. Estes miúdos, de quem ainda tenho muitas saudades, exigiam uma constante atenção e leitura da realidade muito para além do óbvio…

Um dia, a propósito de Os Lusíadas, (há tantas histórias em torno da grande epopeia), pedi aos alunos que, como T.P.C. imaginassem ser marinheiros na nau de Bartolomeu Dias no dia em que foi dobrado o Bojador. Na aula seguinte, comecei pedindo aos alunos que lessem o que haviam escrito. Um dos meus alunos, o A., quando lhe pedi para ler, respondeu: - Não tenho nada para ler, setôra. Pediu-nos que imaginássemos, eu imaginei. Mas não disse que era preciso escrever…

Pois… de facto, eu não tinha dito! Aprendi, rindo-me com eles, que é preciso muito cuidado quando se pedem T.P.Cês… sobretudo, a miúdos inteligentes - que são todos!