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Editorial

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 - Entrevista -

 

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Conversando com Luís Cardoso, Presidente da Escola Superior de Educação do I. P. de Portalegre

Luísa Moreira
CEFOPNA

1. Como caracterizaria, de forma resumida, a história da ESE em Portalegre?

A história da ESE em Portalegre é um exemplo perfeito da missão do Ensino Superior Politécnico e das Escolas Superiores como eixos dinamizadores da região, promotores da qualificação e formação, ligação à comunidade, e agentes de desenvolvimento social e cultural.

Ao longo do seu percurso, a ESEP soube sempre compreender as solicitações da região e dos seus vários públicos-alvo, correspondendo com uma atualização permanente da sua oferta formativa, que inicialmente estava centrada na formação de professores, mas que foi evoluindo para outras formações, como Educação Artística, Animação Sociocultural,  Jornalismo e Comunicação, Serviço Social, e Turismo. Paralelamente, a ESEP tem um itinerário riquíssimo em projetos, programas, formação contínua, e formação pós-graduada, que desejamos manter e redimensionar.

2. Qual considera que deve ser o papel a desempenhar pela ESE no quadro local e regional em que se insere?

Como referi anteriormente, a ESEP soube construir, ao longo dos seus vinte e seis anos de existência, vários níveis de intervenção (científica, pedagógica, social, cultural) no quadro local e regional.

Considero que a ESEP, enquanto unidade orgânica do Instituto Politécnico de Portalegre, é fulcral para o desenvolvimento local. Se analisarmos o passado e o presente da Escola, que está bem espelhado no livro que editámos no ano passado sobre os 25 anos da nossa instituição, constatamos que a nossa oferta formativa (primeiros e segundos ciclos), a nossa investigação científica, os nossos projetos e programas (saliento apenas alguns: Escolas Rurais, ECO, a parceria com o Instituto das Comunidades Educativas, EQUAL, FORAL, TEIP, PNEP, o Programa de Formação Contínua em Matemática, o Programa de Formação em Ensino Experimental das Ciências, o Observatório de Turismo), bem como a nossa relação de cooperação efetiva com a comunidade, a nossa rede de parcerias locais, nacionais e internacionais são evidências inequívocas do dinamismo da Escola Superior de Educação de Portalegre.

Gostaria ainda de assinalar a crescente realização de eventos científicos de referência, nas áreas de intervenção da ESEP, como congressos e conferências (e destaco o próximo Congresso Internacional sobre Estudos Rurais, que será realizado nos dias 31 de Maio e 1 de Junho, organizado pela ESEP e pela ESAE, em colaboração com o C3I do IPP, do CESNOVA, da ERTA e da Universidade de Évora, bem como o I Congresso Internacional de Cultura Lusófona Contemporânea, organizado pela ESEP e pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora, do Brasil, que decorrerá nos dias 11 e 12 de Junho), bem como o nosso envolvimento social e cultural com a região.

3. De uma forma sintética, quais considera serem as prioridades da Escola Superior de Educação em Portalegre – e o que pode a ESE oferecer que leve um jovem a optar pela frequência da mesma?

Pretendo que a ESEP articule os seus valores matriciais com os desafios atuais, de modo a continuarmos a edificar uma Escola norteada pelos valores da qualificação científica dos seus docentes, qualidade de ensino, e permanente procura da inovação. Neste momento, as nossas prioridades são a consolidação e reforço da nossa oferta formativa, nomeadamente nos segundos ciclos, a qualificação dos nossos docentes, a investigação (através do Centro de Investigação do IPP – C3I -, e de parcerias já construídas – e a construir -, com centros de investigação de referência nacional, como o Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa) e a internacionalização.

A ESEP possui várias características que constituem motivos para que um jovem escolha um dos seus cursos. Começaria por evidenciar que a nossa Escola oferece primeiros ciclos com qualidade científica e pedagógica, inseridos na matriz do Ensino Superior Politécnico e nas diretrizes de Bolonha, com estágios integrados em instituições de referência, locais e nacionais, bem como segundos ciclos de elevada especialização e dimensão profissionalizante, que permitem aos alunos dos primeiros ciclos o aprofundamento das competências. A ESEP oferece atualmente os Mestrados em Educação e Proteção de Crianças e Jovens em Risco, Educação Pré-Escolar, Ensino do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico, Formação de Adultos e Desenvolvimento Local, Jornalismo, Comunicação e Cultura, e aguarda a análise da A3ES às propostas de criação dos mestrados em Ensino do Português, e em Gerontologia (este segundo ciclo foi proposto em parceria com a Escola Superior de Saúde).

A realização de um estágio Erasmus, em instituições de Ensino Superior europeias, bem como o aprofundamento de competências linguísticas no Centro de Línguas e Culturas (CLIC) do IPP são outras razões para que um jovem escolha a ESEP. Devo ainda destacar que os alunos usufruem dos apoios dados pelos Serviços de Ação Social do Instituto Politécnico de Portalegre, bem como da possibilidade de serem alojados nas residências do IPP, e utilizarem a cantina que fica junto aos Serviços Centrais e muito perto da ESEP.

Não poderia deixar de referir que na ESEP existem vários espaços de apoio aos estudantes como a Biblioteca, o centro de informática, salas de estudo, e centro de recursos audiovisuais. Realizamos ainda, ao longo do ano letivo, múltiplos eventos (congressos, conferências, workshops) interligados com a nossa oferta formativa, bem como momentos de cultura e enriquecimento extracurricular, em áreas como o cinema (Clube de Cinema da ESEP), o teatro, e a fotografia (Núcleo de Fotografia do IPP).

4. A formação de base dos portugueses em geral e dos professores em particular, tem, ultimamente, sido alvo de muitas críticas divulgadas pela comunicação social. Na qualidade de Diretor de uma escola ligada à formação inicial de professores, considera haver justiça nessas observações?

Em primeiro lugar, gostaria de referir que Portugal ainda tem um caminho para fazer no que concerne à qualificação dos portugueses. Mais ainda, neste contexto de adversidade económica e financeira, urge que o Ensino seja visto, de forma clara, como uma prioridade nacional. Em segundo lugar, importa destacar o papel absolutamente fundamental do professor na sociedade, que nem sempre tem sido devidamente reconhecido. A profissão docente possui um enquadramento que determina os seus percursos de formação, o acesso à profissão e a avaliação do seu desempenho, pelo que a sua competência científica e pedagógica não pode ser questionada sem fundamento e sem plena consciência das elevadíssimas exigências que esta profissão acarreta. Por outro lado, penso que é necessário olhar o professor como um pilar fundamental para a construção da cidadania, e para desenvolver nos alunos uma consciencialização de um mundo em permanente mudança. O professor merece ser reconhecido por estas e por muitas outras missões que tem desempenhado no nosso país.

5. Como sabemos, a formação é um processo contínuo e nunca, cremos, concluído. Como encara a ESE de Portalegre o processo de formação contínua de professores? Qual pode ser seu papel neste processo?

O nosso percurso de formação nunca está concluído e, pela natureza da profissão docente, de modo a que a qualidade do nosso desempenho científico-pedagógico se traduza no espaço de aula e no progresso dos nossos alunos, é necessário que consideremos a investigação e a formação como fatores indispensáveis. A ESEP tem tido um papel muito ativo na formação contínua de professores e ainda hoje dedicamos muita da nossa atenção aos diferentes caminhos que podemos proporcionar aos docentes para a sua formação. Se olharmos para as diferentes intervenções que a ESEP já fez neste domínio, pensamos que não só podemos continuar a contribuir, como podemos redefinir as nossas ações. Recordo como excelentes exemplos as formações que a ESEP já realizou no âmbito do Ensino da Matemática, do Português, das Ciências Experimentais, das TIC, das Necessidades Educativas, com o seu respetivo enquadramento temporal, mas que desejamos transmitir, com outro contexto, por exemplo, a formações pós-graduadas, como é o caso do Mestrado em Ensino do Português, que surge na linha do trabalho efetuado no âmbito do PNEP. Por outro lado, muitos participantes em projetos da ESEP continuaram a desenvolver as suas atividades nos nossos mestrados, como é o caso do segundo ciclo em Formação de Adultos e Desenvolvimento Local.

Considero que a ESEP, pela sua história de grande qualidade na formação contínua, reúne excelentes condições para contribuir para a formação dos docentes, pelo que estou totalmente disponível para analisar solicitações que nos sejam apresentadas por Centros de Formação ou Agrupamentos de Escolas, como tem vindo a acontecer, de forma mais evidente, nos últimos tempos.

6. Numa área socialmente deprimida, como a área de influência da ESE de Portalegre, como encara a constituição de parcerias com os Centros de Formação de Professores (CFAE)?

Mais do que enfrentarmos as dificuldades evidenciadas pelos contextos, devemos procurar as melhores soluções para as colmatar. Na nossa região, e atrever-me-ia mesmo a dizer, no nosso País, não faz sentido que as instituições desempenhem as suas missões com uma perspetiva de clausura narcísica. Defendo que as instituições devem trabalhar de uma forma construtiva em parcerias dinâmicas e ativas, e a ESEP sempre foi um exemplo de cooperação com outras instituições, como bem comprovam os nossos programas, os projetos, e a fortíssima relação coma comunidade. Encaro a constituição de parcerias com os Centros de Formação de Professores como uma oportunidade para a nossa região, de modo a proporcionarmos os melhores caminhos de formação aos professores, pelo que estou inteiramente disponível para analisar esta questão com os CFAE.

7. Com o desemprego crescente dos docentes, e até, num certo sentido, o excesso de oferta de “mão-de-obra” qualificada, ainda fará sentido formar professores em Portugal?

Este tema deve ser enquadrado pelos atuais desafios que enfrentamos no nosso País, em geral, e no Ensino Superior, em particular, É precisamente através da qualificação e da qualidade que conseguiremos ultrapassar os constrangimentos que vivemos. Este deve ser um pensamento central para todos nós. Por outro lado, há que recusar liminarmente que Portugal possui um excesso de diplomados ou de instituições de Ensino Superior. Portugal ainda tem de crescer para atingir os valores médios de qualificação europeia. Formar professores faz sentido e fará ainda mais sentido quando existir uma política de concertação de vagas no Ensino Superior, o que não acontece. Com uma concertação efetiva, capaz de discriminar positivamente o interior, capaz de olhar para as necessidades efetivas do País, seremos capazes de corresponder às expectativas de professores, pais e alunos.

8. Considerando o mundo atual, com a informação à distância de um clic e num imediatismo alucinante, quais pensa serem os principais desafios que se colocam à Escola dos nossos dias?

O nosso principal desafio consiste em acompanhar essas mesmas mudanças, acompanhar as expetativas e interesses dos nossos alunos, e proporcionar aos professores as melhores condições (de formação, de espaços físicos, de reconhecimento social e profissional) para o seu desempenho. Neste sentido, acredito que as Instituições de Ensino Superior são vitais neste processo e penso que a ESE de Portalegre reúne todas as condições para contribuir positivamente para estes desafios, pois possui um trajeto de grande qualidade na formação de professores, tem investido muitíssimo na qualificação do seu corpo docente, nomeadamente através da obtenção do grau de Doutor em áreas científicas chave da intervenção da Escola, e tem desenvolvido investigação científica de alto nível. Considero ainda que o futuro está cada vez mais associado às tecnologias de informação e de comunicação, pelo que uma das nossas opções estratégicas na ESEP será o Ensino em E – Learning, que já começámos a planear, e que vai estar associado, em primeiro lugar aos nossos mestrados.

9. O que é preciso mudar na formação de professores em Portugal?

Considero que a formação de professores não pode ser exclusivamente pensada e implementada “top down”. Deve existir uma articulação entre o enquadramento proporcionado pelo Regime Jurídico da Formação Continua de Professores (com uma clara definição, por exemplo, das áreas de formação, modalidades de ações, e entidades formadoras), os CFAE e as instituições de ensino superior, bem como, e diria mesmo, acima de tudo, com o contributo dos próprios professores que devem estar na origem de todo este caminho.

10. Quais seriam os três principais conselhos que daria a alguém que, neste momento, quisesse ser professor?

Em primeiro lugar, diria que quem quer ser professor deve ter a consciência de que assumirá uma missão ímpar: a responsabilidade de formar cidadãos, de transmitir valores e de valorizar o que de melhor têm os seus alunos.

Em segundo lugar, diria que deve conhecer os desafios que estão associados a esta profissão, nomeadamente a absoluta necessidade de atualização permanente, face à multiplicidade de solicitações que podem surgir no espaço de aula.

Em terceiro lugar, diria que ser professor é procurar o futuro nos olhos dos alunos e acreditar que os horizontes existem para serem conquistados.